Aos brasileiros todos, bem como a todos os que residem ou estejam no País, os nossos novos votos de um feliz Ano-Novo, repleto de progresso, paz, harmonia e felicidade. Para quem esteja estranhando os novos votos ora formulados, convém lembrar que o Ano-Novo, no Brasil, começa só depois do Carnaval. Essa é uma afirmação antiga, entretanto, sempre atualizada quando observamos como o brasileiro se conduz de Primeiro de Janeiro ao término do Carnaval. A mais premente preocupação de um razoável contingente de brasileiros é traçar planos para o Carnaval, a festa nacional. Não importa a situação vivida no momento, pois, com crise ou sem crise, o essencial é aproveitar os dias dedicados ao Rei Momo. E os problemas econômicos e financeiros? Que esperem, ora! Carnaval é alegria, é folguedo, é animação. Nada de pensar nas prestações vencidas e a vencer; nas dívidas já consolidadas ou nas que se consolidarão. Para longe as doenças, problemas de família, encrencas e mais encrencas. A ordem é deixar todas as mazelas de lado e partir para a folia, viver literalmente no reino da fantasia, sambar na avenida, encher a cara e sumir no mundo. Vimos todos os belos desfiles das Escolas de Samba, que mesmo em tempos difíceis mostraram uma força incrível na avenida. Também pudemos constatar como os foliões se esbaldaram pelas ruas de várias cidades brasileiras. Milhões de pessoas se divertindo, talvez numa fuga da realidade cruel. O frenético ritmo dos instrumentos funciona como um alucinógeno e nivela os foliões por alguns momentos. Nada de pensar em coisa alguma. O momento é de entretenimento, mesmo que efêmero. E como passa depressa a alegria do Carnaval! É irônico cantar sempre: “Agora é cinza. Tudo acabado e nada mais!” (Noite Ilustrada). Ainda que em alguns lugares os foliões teimem em esticar a folia, o fato é que já estamos vivendo o período da Quaresma. E esses foliões terão de acordar rapidinho, pois aí vem o Ano-Novo, nascendo no horizonte das dificuldades da vida. De repente chega uma notícia rápida no novo Ano-Nov os Bancos recolheram cem mil veículos cujos compradores estavam com as prestações em atraso. É possível que muitos dos devedores tenham aproveitado bem o Carnaval. Agora é andar a pé. “Ano novo, vida nova!” E no meio da multidão seria possível encontrar novos e velhos desempregados. Merecem a benevolência de todos, pois tristezas não pagam dívidas. Agora é deixar o mundo da fantasia de lado e acordar para a vida, que os impostos nos esperam. E, de novo, feliz Ano-Novo! (*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro mariosalvador@terra.com.br Mário Salvador escreve às terças-feiras neste espaço