O homem, acreditando valorizar a mulher em casa, chamou-a Rainha do Lar. O reinado consistia em cuidar da numerosa prole e manter o lar em ordem. E, em alguns casos, ainda em controlar ganhos do marido, para não faltar nada à família, que vivia, digamos, na Ilha da Fantasia.
A irônica submissão dessa Rainha era tanta, que lhe era negado o direito de votar. A mulher, com firmeza, foi conquistando espaço e abdicou-se do título de Rainha. Não foi tarefa fácil, pois enfrentou, além do poder patriarcal, milenares e arraigados costumes. No mercado de trabalho, ocupou cargos de chefia e tornou-se empresária de sucesso. E foi reconhecida como força política, passando a ter direito de votar e ser votada.
Vencendo obstáculos, impôs-se, consciente de seu valor e capacidade para toda espécie de atividade. Igualou-se ao homem e, em muitos casos, superou-o no exercício de tarefas. De Rainha do Lar, confinada entre quatro paredes, passou a Soberana em diversos setores até então exclusivos do homem, chegando inclusive, à Presidência da República.
Entretanto a sociedade deve mais proteção à mulher, sobretudo quando o machismo se impõe. Há situações em que o homem, vendo-se sozinho quando a esposa não deseja mais o convívio com ele, não aceita se separar e parte para a agressão. Passa por cima da lei específica de proteção à mulher e executa a promessa da sentença de morte dela. É preciso criar mecanismos que realmente protejam a integridade física da mulher.
Recentemente o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) constatou que 65% das mulheres são estupradas por não se vestirem decentemente. Admitindo seu erro, e após crítica contumaz do povo em relação à perda de foco como órgão governamental, o Ipea afirmou que o número correto é 26%. Na verdade, em alguns casos, a sociedade já se encarrega de punir o estuprador. Embora não se possa fazer justiça com as próprias mãos, o povo, às vezes, não suporta a morosidade da Justiça.
Todos os seres humanos estão no mundo graças a uma mulher. O título de Rainha do Lar, que parecia honroso, na verdade era horroroso. Foi preciso que a mulher se tornasse socialmente soberana para ter sua capacidade e valor reconhecidos. E respeito, proteção e amor são formas de manifestarmos esse reconhecimento.