De vê-la bonita
Nasci em Jardinópolis, perto de Ribeirão Preto (SP). Hoje sou uberabense querendo ver Uberaba bonita. Se não por força do destino, não sei qual outra me trouxe para cá, a fim de um curso de Odontologia que em Ribeirão estava pertinho de mim. Numa tarde de dezembro de 1949, eu por aqui chegava. Com a imagem de Ribeirão na memória, fiquei pasmado ante a feiura de Uberaba. Uma cidade denotando pobreza, quase as escuras, com enorme problema de abastecimento d’água e de energia elétrica, sem emprego, sem vida própria, parecia agonizar. Dezenas de moços como eu, vindos doutros recantos almejando o mesmo curso, assistimos Uberaba aos poucos se levantar e crescer. Cresceu... Fez inveja a sua vizinha Uberlândia. Depois se aquietou... Cresceu aquela outra... Falou de si, mostrou suas coisas, mostrou suas grandezas fazendo inveja.
Eu tinha 21 anos etários quando aqui cheguei. Sessenta e seis anos se passaram — mas não é dos 21 anos, nem dos 66 outros que se foram que almejo falar e sim, do porquê de Uberaba não se mostrar, não falar de si como falam as outras? Nada diz de suas Universidades, de seu parque industrial, de seu interesse em recepcionar novas empresas, de seu comércio crescente, de seus belíssimos Shoppings, de sua pecuária famosa, da melhoria de seu aspecto urbanístico respeitando ao meio ambiente. Enfim, nada fala de sua grandeza. Até parece que nunca ouviu que: “Quem não se anuncia, se esconde”. O que realmente se tem, é que de algum tempo, o seu empenho maior se concentra na implantação do BRT, mesmo gerando insatisfações a comerciantes e desagrado a nós outros por tantas inversões no trânsito em tempo de combustíveis em elevados preços.
Pelas diversas providências surpreendentemente tomadas, logo se percebeu que o projeto encomendado se espelhou n’outro de difícil ajustamento em Uberaba com suas estreitas ruas e sua intensa movimentação de veículos. A “Experiência em tudo, dita convicção”—mas que experiência, que convicção se tem deste sistema para continuar a estendê-lo, promovendo radicais transformações como as que se fizeram nas mais centrais avenidas de Uberaba? Que sucesso causou o que se fez na Avenida Dr. Leopoldino de Oliveira? Também, na Avenida Dr. Fidélis Reis, hoje transformada numa Rodovia desprovida de um sinaleiro em favor dos pedestres e aos que necessitam retirar o seu veículo para se dirigirem ao trabalho.
A elevação asfáltica construída com intenção de faixa de segurança, apenas é uma hipótese sem posterior análise de sua eficiência. Não será preciso muito para se perceber que, por onde o BRT passar, as suas consequências já assistidas serão temerosamente esperadas por outros. Mesmo com propostas de adequações, continua o BRT sendo “Persona não grata” a tantos uberabenses pelo receio de desvalorização de seu patrimônio, pela ausência de estacionamento, pelo possível estremecimento na dinâmica de seu comércio.
Sem comércio, o desemprego é óbvio. Sem emprego, qual o sentido do BRT? Enquanto maciçamente se volta atenção a este sistema e ao Gasoduto politicamente sempre ficando sem definitiva resposta, um tanto de coisas de nossa cidade esperam por atendimento administrativo. Somando-se estes mencionados, à sua natural e acidentada topografia, a seus passeios horrivelmente abandonados, a sua deficiente iluminação, a sua falta de segurança, as suas diversas ruas e avenidas carecendo de novas camadas asfálticas, Uberaba para mim continua sendo aquela mesma cidade feia. Pela gratidão que lhe sou devedor, entristece-me não “Vê-la bonita”.
Manoel Therezo