Ficou retido em mim, você. Por puro desejo meu. Só meu
Ficou retido em mim, você. Por puro desejo meu. Só meu. Você é assim, nos leva ao sonho de um amor querido. Só vê-la não me bastaria. Queria bebericar junto a você o vinho não bebido. Não importa que seja aquele, até poderia, desde que fosse o nosso. Resolvi lhe dizer, com todas as palavras, do meu sentimento. Por isso - como disse o poeta - “ando procurando um jeito de beijar sua boca...” Sabe, é muito bom amar você. Palavra forte entre os jovens e consequente entre aqueles que já caminharam por estradas. Sendo simples, para sermos eternos, queria que você aceitasse o meu convite para um relacionamento. Preciso lhe dizer isto com todas as palavras, sob pena de eu estar condenado ao silêncio dos meus sentimentos. Foram estas as palavras de Evódio ao telefone. Naquela manhã, acordou disposto a dizer. Ele pressentiu a paixão, era um frescor a entrar pelos seus poros, causando-lhe arrepios e eriçar de pelos. Seu todo se mexeu. Ela era ternura, graça de se envolver. Nada substituía aquele seu jeito de falar, um sotaque que o arrebatava para lugares não conhecidos. Resoluto, tomou o celular, mas, no entanto, não havia sinal. O aparelho estava mudo ou o traindo em momento que mais se necessitava dele. Mas isto não era motivo para arrefecimento de propósitos. Saiu à busca de um orelhão que pudesse socorrer a sua fala, a sua paixão, que quer se expressar. Ao longo do caminho sorriu incrédulo para com a tecnologia. Foi preciso, então, buscar no passado o contato para o presente rumo ao futuro. Comprou um cartão telefônico, após uma via-sacra de visitações para encontrá-lo. Discou. Ouviu o som do chamamento... Tão antigo como as paixões vividas. Para cada época uma pessoa. Queria ter tido uma única, mas, com ele, não foi possível. Não houve uma mulher para o resto da vida. Ela atendeu, e, ele, se declarou. No entanto, não pode ouvir a resposta da amada. Um carro desgovernado, conduzido por um jovem alcoolizado, o atropelou, deixando-o estendido ao chão. Ele olhava o telefone balançando e o som da voz da amada ia e voltava; alô, alô, você está aí? Alô, Evódio! Ele nem gritou. A dor e o sonho o envolveram. Acordou quando o barulho da sirene subia a avenida. Desejou que todos declarassem o amor no Natal e que ele fosse do tamanho dos sonhos desejados.