No dizer do Papa Francisco, existe hoje uma insensibilidade em relação aos nascituros e aos idosos, mas também em relação a todo tipo de desperdício. O que conta são os interesses individuais, chegando a descartar alimentos e bens supérfluos, mas também seres humanos. Muitos idosos pelo mundo foram descartados por causa do coronavírus, ação que não deveria ter sido assim.
As atuais regras econômicas não levam ao desenvolvimento humano integral. Elas aumentam a riqueza, mas sem a equidade, fazendo surgir “novas pobrezas” em diversas partes do mundo. Faltam respeito, reconhecimento e garantias pela pessoa humana, e isso dificulta as iniciativas em prol do bem comum. O que domina mesmo é a injustiça e o modelo econômico centrado no lucro que explora.
A discriminação continua ainda em alta. A infeliz prática da escravidão está privando a liberdade e constrangendo as pessoas a viverem em formas semelhantes àquelas da escravatura. Assim são tratadas como objetos, mercantilizadas e reduzidas a simples propriedades de alguém. O tráfico de pessoas realizado por certas organizações criminosas vem justamente desse contexto degradante.
Os interesses econômicos só privilegiam a verdade quando ela beneficia uma pessoa poderosa, mas deixa de ser verdade se daí não vem o lucro. Isso não passa de uma verdadeira violência que se multiplica no mundo todo. É uma realidade, como uma verdadeira guerra, que prejudica qualquer projeto de fraternidade e unidade. Frutos dessa realidade: falsa segurança, medo e desconfiança.
O Papa Francisco mostra que a nova cultura forma muros, barreiras de autodefesa. É a cultura em que cada um constroe os seus muros, inclusive muros no coração impedindo o encontro com outras culturas e com outras pessoas. As consequências são trágicas porque os indivíduos se tornam escravos dentro dos muros por faltar o que é fundamental na convivência, a alteridade.
Nesse clima de abandono das pessoas na nova realidade cultural, diz Francisco, existe um terreno fértil para as máfias. Elas aparecem como “protetoras” dos esquecidos e conseguem formar uma situação de dependência e de subordinação muito difícil para um processo de libertação. Temos um desenvolvimento tecnológico, mas com deterioração da ética e dos valores da pessoa humana.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.