Há um texto no Evangelho de São João que diz assim: “Eu vim ao mundo para fazer a vontade do Pai e a vontade do Pai é que todos se salvem”. Todos. Sejam cristãos, muçulmanos, budistas, xintoístas, confucionistas, aborígines, seja quem for. Deus não faz acepção de pessoas.
As grandes religiões, todas elas orientais, de experiência milenar, não foram instituídas visando curas psicológicas. Elas são grandes estruturas intelectuais capazes de levar o indivíduo a um comportamento bem determinado. Elas atendem às aspirações espirituais dos seres humanos, à necessidade de crer em valores elevados. Elas oferecem respostas às nossas angústias diante do sofrimento, diante da morte. Elas ensinam o que é verdadeiro, o que é bom, o que é justo. Nenhuma delas é perfeita. Mesmo com suas deficiências, ensinam um “caminho”: o caminho da salvação. Elas nos transmitem um conjunto de ensinamentos que nos ajudam a interpretar o mundo. A religião está mais numa linha de “tomada de consciência”. Não é periférica. Elas mergulham no que há de mais profundo dentro de cada um nós. Cria convicções e compromissos.
Ainda existe muito fanatismo religioso. Infelizmente. O dogmatismo constitui um retrocesso religioso. Nem a Igreja Católica ficou livre disso. Por causa dum excesso de poder, de uma intransigência lamentável, ela cometeu erros históricos imperdoáveis. Ainda bem que reconheceu seus erros e se arrependeu. Deu um exemplo de grandeza. O Papa João Paulo II pediu, publicamente, perdão pelas injustiças cometidas contra Galileu, Lutero, João Huss, contra Rosmini. Pediu perdão pelas torturas da Inquisição, pela violência assassina das Cruzadas e muitas coisas mais. Mesmo assim, ainda existe muita gente fanática, gente incapaz de respeitar as opções religiosas dos outros. Há muitos religiosos por aí que ainda se julgam donos absolutos da verdade.
Na Catequese de mais de 50 anos atrás, ensinavam-nos que “fora da Igreja Católica não há salvação”. O Concílio Vaticano II acabou com essa insensatez. Nenhuma teologia insiste mais nesse tipo de catequese.
É difícil compreender que há gente que ainda briga por causa de religião. Não existe religião de mãos limpas. Todas têm os seus pecados, as suas fraquezas. Seria bom que você lesse o episódio do encontro de Jesus com a samaritana. Você iria quebrar um pouco de seus esquemas superados.
Infelizmente, Deus está sendo banalizado. Está se tornando um produto de consumo. O espetáculo está se tornando mais importante do que a doutrina. Há certas missas verdadeiramente teatrais. Missa virou “show”. O importante é a emoção e não o compromisso. O que vale é o pula-pula, o transe, os gestos circenses, sobretudo a conta bancária. A consciência dos valores cristãos vai ficando em segundo lugar.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro