ARTICULISTAS

Dia do idoso

Os dias dos meses no calendário vão recebendo apelidos

João Gilberto Rodrigues da Cunha
Publicado em 21/05/2014 às 20:12Atualizado em 19/12/2022 às 07:41
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Os dias dos meses no calendário vão recebendo apelidos: dia das mães, dos pais, dos filhos, dos médicos, dos militares, do motorista, de vários etc. Chego um olhar nesta fartura, talvez por ocasião e falta do que fazer, e procur e o dia do idoso, onde está, como é sua comemoração? E descubro que idoso – ou idosa – não tem vez na literatura. Talvez porque sobram poucos na sociedade, uma minoria que não tem patrocínios – o idoso, simplificando, não tem número ou torcida no palco, ninguém lhe bate palmas, um “viva o velho” não emociona. De minha própria experiência vou lembrando e repassand pra que é que velho existe? O que ele conseguiu, fez ou viveu... já ninguém se interessa, está no arquivo empoeirado dos anos. Nesta manhã de solidão lembrei-me do meu irmão José Humberto, o melhor e mais completo médico na minha existência. Quando e por acaso falam seu nome, alguns velhos ou velhas ainda estremecem, alguém conta passagens de salvação que operou. A grande, enorme maioria, pergunta uns aos outros: caramba, quem foi este mágico? E daqui a um pouco resto de tempo ele também será apenas história, não mais pessoa, não terá nome no dia do idoso – que não existe. É cedo nesta manhã, tomo um simples café com leite e pão, repasso lembranças de idosos que foram minha vida, profissão, alegrias e sócios nas tristezas... são muitos, o nome de um puxa o outro, alguns são alegres, outros foram apenas sofredores de dramas da vida, mereciam sorte melhor... Lembro coisa da infância, ali na praça Rui Barbosa, em frente à nossa casa, no jardim eles se sentavam, iam conversando coisas da vida passada, dos sucessos esquecidos, como também de fracassos ou desastres que quase nunca são esquecidos... O sol ia levantando, eu saía para o colégio, via aquele grupo de idosos se dissolvendo, cada um pra sua casa e resto de vida, tomar o café, alguma lágrima talvez do que não queria contar. Coisas boas ou de sucesso... nem sua família recordava, os jovens só viam o que fracassara. O trabalho, suor e sofrimentos do velho eram solitários, apenas ele tinha explicações que a família “e os outros” não queriam saber. Ele não reconta mais isto aos companheiros, que então têm alma gêmea e passado igual. Talvez, naquele futuro onde ele já estará ausente, o filho estará presente, sem o banco da praça... e sem a quem contar sua história. Se acontecer o dia do velho, pelo menos este consolo ele poderá contar. Amém...

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