Recebi no domingo passado a visita de meus filhos – de todos os meus netos, apesar de não existir ainda o Dia dos Avôs. Não fico especialmente emocionado porque, afinal, e graças a Deus
Recebi no domingo passado a visita de meus filhos – de todos os meus netos, apesar de não existir ainda o Dia dos Avôs. Não fico especialmente emocionado porque, afinal, e graças a Deus, temos este encontro semanal programado há muitos anos.
O que me impressionou foi ver, na televisão, a quantidade de pais e filhos que vivem distantes e separados e, nesse dia, viajam de aviões e pelas estradas do perigo – para se encontrarem. E, ainda, aqueles da internet, dos telefones internacionais, das distâncias que não puderam vencer, mas que puderam regar com alguma lágrima ou lembrança. Neste conjunto, incluo também aqueles que não mais se encontrarão, pais e filhos que se foram deste mundo e, nesse dia, se relembraram...
Bem, meu pai havia partido antes da cerimônia deste dia, cinquenta anos atrás, e não desfrutou dessa alegria. Minha mãe... bem, ela fez de tudo para manter a unidade familiar e vejam que não era fácil – afinal, éramos quatorze filhos... O nosso dia era o Natal, quando todos os que podiam reuniam-se naquele que era, afinal, o dia de todos os pais, mães e filhos. Agora, vivo, vejo e participo dos novos tempos.
Não podemos negar a participação e o interesse comercial destes dias. É dia pra todo lad dos Pais, das Mães, da Criança, do Médico, do Advogado, da Enfermeira, da Secretária, até da Árvore etc. e tal. Tudo é motivo de comemoração, que, na linguagem atual, é dar um presente, fazer uma festa, promover alguma celebração. O comércio estimula e promove todos os dias e estica suas horas de atividade, tem suas razões óbvias (vai no dicionário, Igor!). Não sou do absolutismo contrário a essas festas. Por uma solidariedade social e inútil, apenas lamento o quanto elas representam em desigualdade social e no destino. Onde está o Dia da Lavadeira, da Cozinheira, do Borracheiro, do Padeiro, do Gari das Ruas, do Sapateiro, Engraxate, Barbeiro, Vendedor de Jornais na esquina, da Diarista, da Pajem, do Boia-fria... enfim, daqueles todos que passam esquecidos pela nossa vida?
Se eu tivesse força empresarial e política, iria escolher, no meio dos dias, aquele que eu chamaria “Dia dos Esquecidos”. Eles não teriam promoções comerciais nem homenagens simbólicas que não entenderiam e, possivelmente, nem direito a um feriado... eles não podem parar seu trabalho. Apenas, e aí de verdade, uma frase no jornal, uma moça bonita na televisão, uma celebração das religiões, nós todos em penitência pelo esquecimento, talvez um pouco envergonhados, pedindo-lhes desculpas: perdoem-me, esquecidos, vocês são gente também...
(*) médico e pecuarista