Existe uma realidade mundial preocupante, a riqueza de um lado e a pobreza crescente do outro. Não significa que a riqueza seja preocupante, mas sim a incapacidade de partilha de quem acumula de forma desnecessária, não conseguindo enxergar a necessidade do pobre. Sabemos que a pobreza é fruto do acúmulo de bens no bolso da minoria privilegiada e despreocupada com o bem comum.
Diante dessa realidade, o Papa Francisco teve a iniciativa de criar o Dia Mundial dos Pobres, porque isto faz parte essencial dos ensinamentos de Jesus através dos Evangelhos. A desigualdade social e econômica pode estar dentro do prisma da justiça e da paz. A voz do Papa é a voz da Igreja, preocupada com a vida e a dignidade de todas as pessoas, ricos e pobres, imagens e semelhanças de Deus.
A Igreja tem uma opção preferencial pelos pobres, não de assistencialismo caritativo, mas num processo de libertação integral, porque é direito de todos viverem bem. É uma questão de justiça, de superação de todos os tipos de discriminação e de desvalorização da pessoa humana. O olhar cristão de compaixão polos pobres constitui um verdadeiro culto de adoração a Deus.
O pobre experimenta uma esperança perdida, mas fica sempre na expectativa de seu restabelecimento. A desigualdade vem ocasionando um considerável grupo de indigentes, de sofrimento e desestímulo de viver. Essa zona limite da vida humana faz com que a pessoa fique desprotegida e sem onde se apegar, a não ser lançar mão na fé e pedir a proteção divina. A violência não leva a nada.
Encontramos na bíblia o seguinte versícul “Ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada” (2 Ts 3,11). A pobreza é fruto da falta de trabalho, que é fonte de sustentação. É uma experiência dolorosa para quem vive motivado para trabalhar e tem necessidade de sustentar a família. É humilhante viver como parasita, dependendo de auxílio alheio.
A Celebração do Dia Mundial dos Pobres precisa sugerir iniciativas de solidariedade dentro da vida comunitária, com um olhar voltado para as pessoas carentes locais; refletir sobra as realidades de trabalho, emprego e questões sociais relativas às desigualdades; trabalhar, em sintonia com a Campanha da Fraternidade, as políticas públicas para que sejam amenizados os sofrimentos de tanta gente.
(*) Arcebispo de Uberaba