O presente assunto, por sua singularidade, pode causar indignação ao ser tomado como tema para artigo em jornal. De fato, o tema é estranho mesmo. Mas quem já não sentiu como é difícil dialogar com alguém que pouco se entende o que fala? Percebe-se que me refiro à péssima “Dicção,” principalmente de criaturas ocupando lugares exigentes de uma pronúncia clara e compreensível. Quando na direção de Curso de Odontologia, delicados alunos vieram a mim manifestando-se preocupados com uma disciplina, porque não bem entendiam o que o professor falava. Parece que um gravador portátil sobre a mesa solucionou o problema, já que não mais voltaram. Nessa ocasião, um alguém havendo estado na Itália estudando técnica do canto lírico durante quinze ou mais anos, voltou para Uberaba por razões familiares. Passou a lecionar aquilo que havia aprendido. Durante seis ou mais anos, dentre os sete amantes desse gênero, também eu me encontrava. Assim que fui assimilando a técnica da Emissão Vocal, foi-me clareando também, o quanto de sua importância mormente para o professor. O pronunciar bem não apenas é precípuo a ele, mas sim, a todos que conversam. Em vários recintos onde o expressar é fundamental, temos assistido bem ao contrário. Firmas que vendem suas pesquisas quanto ao [Grau de Satisfação] dos compradores diversos, não se dando aos cuidados desse importante pormenor, colocam a nos interrogar, criaturas nos parecendo falar em outro idioma. Também atrás de tantos guichês, outras e outros entre bocejos, balbuciam coisas para a gente adivinhar. Ainda nessa linhagem, telefonistas de consultórios diversos, além da dicção, também nos parecendo cansadas, falam tão baixo como que se admitindo dentro de nossos ouvidos. Certa ocasião, ainda em consulta, porque eu precisava escutar para compreender, com tolerância já esgotada, não me contive e perguntei à doutora, o porquê pronunciava tão mal e tão baixo? Tenho que está no cartel das obrigações dos pais, se também não se igualam, analisarem a dicção de seus filhos e buscarem quando for preciso, profissionais específicos. No mundo do rádio então, uma calamidade. Os locutores por acharem uma beleza, impostam a voz para o grave que deformam a dicção, pouco se entendendo o que realmente falam. Cumpre também aos diretores abordá-los para que sejam o que realmente são. Não falemos das dublagens em filmes – mas falemos das duplas sertanejas se recursando do golpe [da glote], certamente nem mesmo eles entendem o que falam. Dias passados, ocasionalmente sintonizando um canal na televisão, um apresentador com uma dicção das bem desastrosas, comandava garboso o programa como se estivesse sendo plenamente entendido. Tem ele por sobrenome, coisa que muito me lembra do sobrenome de uma criatura aqui entre nós demais conhecida. Opa!... Opa!... Sem querer, quase dei uma do último terceto do soneto X da [Via Láctea] de Olavo Bilac.
[Ouço em tudo teu nome, em tudo o lei
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.]