Dinheiro demais nunca nos atrapalhou, uma vez que jamais tivemos o bastante para que isso acontecesse. Em compensação, algumas vezes ficamos atrapalhados sem o suficiente para realizarmos um ou outro sonho de consumo.
Embora não tenhamos tanto, conhecemos histórias de pessoas que se enricaram repentinamente e se envolveram em complicações, justamente por terem experimentado essa mudança na vida. Em alguns casos, o dinheiro até poderia ter sido bem aplicado, porém o ganhador muitas vezes acaba sofrendo as consequências da ganância alheia.
Ainda agorinha aconteceu o julgamento da viúva de um ganhador da Mega-Sena. Esse ganhador, a quem a sorte sorriu com cinquenta milhões de reais, acabou assassinado; o valor do prêmio está retido pela justiça; e a viúva teve sua absolvição em júri popular. Não fosse o prêmio, o infausto ganhador talvez estivesse vivo.
Se o assunto é dinheiro, nós, brasileiros, estamos alegrinhos, pois nada devemos ao FMI. Vivíamos de pires na mão, buscando empréstimo no Fundo. De repente o Fundo nos pede, justamente, que auxiliemos países endividados. Lindo demais! O fato de passarmos de pedidores a emprestadores ou mesmo doadores merece comemoração.
Por outro lado, estamos com uma dividazinha interna de apenas um trilhão e setecentos e trinta bilhões de reais. Em 1999, essa dívida era de 225 bilhões, e por ela, bem recentemente, pagamos 237 bilhões de juros. Por ser vultoso esse valor, preferimos deixar o assunto para os economistas. Mas a situação é tão assustadora, que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), criadora do Impostômetro (aparelho que mede segundo a segundo a arrecadação de impostos pelos órgãos estatais) pretende criar o Jurômetro, para mostrar quanto o brasileiro paga de juros. Imaginemos o que seria possível realizar só com esses juros que recebem os sortudos credores, que estão ficando cada vez mais ricos.
É de se pensar qual a conveniência de devermos tanto quanto devemos, pagarmos tantos juros quanto pagamos e qual a causa de tamanha dívida. Uma vez que o Brasil tem essa dívida, nós, seus filhos, estamos todos envolvidos no problema. Se contabilizarmos quanto cada brasileiro está devendo aos credores, não conseguiremos mais dormir. É pesadelo demais para a nossa cabeça.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro