...e, às vezes, pior quando tem. Filosofia barata, é verdade. Devo confessar
...e, às vezes, pior quando tem. Filosofia barata, é verdade. Devo confessar, do alto dos meus oitenta andares vividos, que esta é a única filosofia que vale. Filosofias abstratas, de psicólogos, filósofos e escritores de livros... valem nada na vida prática e diária. Aliás, alguns desses personagens se suicidaram quando descobriram o fracasso de suas ideologias.
Um dia, pela sorte e destino, vi pela frente a estátua meditativa de Rodin, considerada uma das obras primas desta arte. Aquele atleta ali representado, semiajoelhado, o braço apoiando o queixo, a cabeça e o olhar distantes, longe deste mundo... que arte e sabedoria me ensinaram...
Deixando pra lá Rodin, falo, escrevo e penso sobre as nossas rodinhas. O nosso “homo urbanus” é um especialista em sofisticar e mentir. Na roda diária, ele é um idealista puro e bem intencionado, ama os seus e a humanidade, prega o amor fraterno, alguns citando frases filosóficas e o nome de Jesus Cristo. Na roda da vida, isso é fácil; no terreno da teoria e das ideias, todos nos julgamos santos, esperando assim as portas abertas do paraíso. Volto à estátua de Rodin, o rosto sério e distante, talvez concluindo com tristeza: como é falso este mundo!... Antes que me imaginem uma vítima da passagem da idade, cérebro esclerosado e alienado, jogo-lhes na mesa do carteado existencial apenas uma carta para comprovação. Releiam o título e me acompanhem.
Nós todos passamos a vida procurando existir, ser alguém, ter um nome, uma distinção existencial. É claro, se possível – e para isto lutamos –, ter uma boa casa, uma Mitsubishi, boas roupas e depósito bancário garantindo-nos uma estação de ski nas neves dos Alpes. Os pobres que não o conseguem tomam caipivodca ou pinga pura mesmo, na roda do sábado desocupado, e baixam o pau no governo incompetente, nos patrões exploradores, ou simplesmente nos azares da sorte. Não ter dinheiro é ruim.
Agora, meus amigos, devo decepcioná-los, dizendo que ter dinheiro às vezes pode ser até pior. Conheço mil casos de pessoas sofredoras trabalhando, lutando e brigando para ter ou ganhar o dinheiro de sua felicidade. Muitos morrem sem esta ventura ou experiência. Outros, pelos fatos da vida, têm a oportunidade de sonhar, saindo da draga semipobre para alguma grana semirrica. Nessa hora, esquecem os bons propósitos humanitários, a solidariedade, aquela pregação cristã e linda do “somos todos irmãos”... O pensamento passa a ser outro, irmãos, um catso, eu quero é o meu e mais, meu Jesus Cristo fica lá na missa dominical, boto cinco reais de esmola, bato no peito, sou cristão pela Graça de Deus!... Aquela ferida na perna do Zezão, ele vai às clínicas se virar, é problema dele e do governo.
Aí volto lá no princípio. Ter e buscar dinheiro podem perverter a mente, subverter as ideias, comportamentos e bondades do necessitado. Este novo ser se julga acima e além do seu passado e ideologias de papel ou oratória. Por aí, poderá ser rico por fora... mas, por dentro, caminhar para a pobreza extrema.
Olha, Dino, vamibora pescar. Acho que hoje exagerei!
(*) médico, pecuarista