Na Fratelli Tutti, Papa Francisco fala desses direitos inerentes à dignidade das pessoas. Ninguém pode ser impedido de ir e vir, mesmo que tenha que atravessar fronteiras, porque não pode existir privilégio de uns em detrimento de outros. O fato de ser pobre, ser mulher, por ter nascido em determinado lugar, nada disso pode determinar mais ou menos oportunidades na vida das pessoas.
É totalmente inaceitável a existência de uma cultura que privilegia determinadas pessoas porque são ricas e acumulam bens. Diz o Papa que “O direito de alguns à liberdade de empresa ou de mercado não pode estar acima dos direitos dos povos e da dignidade dos pobres”. Ele conclui dizendo que “quem possui uma parte é apenas para administrá-la em benefício de todos”.
O trabalho dos empresários é uma nobre vocação, porque eles produzem riqueza para melhorar o mundo. A capacidade de gestão, que inclui o setor econômico e o tecnológico, é um dom de Deus, mas precisa ser desenvolvida com o empenho individual e coletivo. É uma realidade que deve ajudar no desenvolvimento de outras pessoas e na superação da miséria no mundo.
Uma das consequências do empenho empresarial deve ser a criação de frentes de trabalho, porque toda propriedade privada deve estar aberta ao direito de todos ao seu uso, principalmente sendo espaço de trabalho para o povo. Os bens da criação não podem ser instrumentos de acúmulo e fechados nas mãos de poucas pessoas, e nem estão acima dos direitos fundamentais da vida humana.
Se o mundo pertence a todos, uma nação precisa ajudar a outra em suas necessidades. É desumana a prática de um país explorar outro, e nem ser capaz de acolher migrantes vindos de outras nações em busca de dignidade. Isso significa “libertar-se do ‘fardo’ das regiões mais pobres para aumentar ainda mais o seu nível de consumo”. É necessária uma ética das relações internacionais.
Torna-se fundamental assegurar aos povos a subsistência e o progresso. Muitos países vivem pagando dívidas externas e, com isto, prejudicando o atendimento digno às pessoas e ao seu próprio desenvolvimento. Diante da inalienável dignidade humana, as nações precisam sonhar e pensar numa humanidade diferente, num planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos, caminho para a paz.
Dom Paulo Mendes Peixoto é Arcebispo de Uberaba