No entender dos cristãos, Deus está por trás de todas as atividades da vida, sejam divinas ou humanas, boas ou más. Nada escapa aos seus olhos, mas sempre focados no bom caminho, no que é digno e convém para a realização de seus objetivos. O projeto divino se realiza num comprometido amor a Ele mesmo e às pessoas, no acolhimento e convivência social e fraterna, na prática de Jesus.
Para qualificar a vida humano-divina, Deus apresenta Jesus como modelo de perfeição, sendo nossa referência fundamental. Mas o caminho que nos identifica não é fácil, é cheio de confrontos entre o bem e o mal. Significa que ninguém está pronto, perfeito, mas busca os próprios objetivos apoiados nos princípios de referência. Numa atitude de despojamento, Deus está na sentinela.
Não é fácil perceber e compreender a presença de Deus nas falcatruas praticadas na sociedade, dizendo que Ele está por trás até das coisas erradas. Isto sim, porque é o sustentáculo da vida, mesmo da vida que pratica atos de irresponsabilidade. Jesus disse aos seus seguidores que não veio para os santos, os perfeitos, mas para os doentes com o intuito de libertá-los das amarras que os prendem.
Diante do desgaste constante que a sociedade brasileira vem sistematicamente sofrendo nos últimos tempos, num clima de insegurança total e sofrimento generalizado da classe vulnerável, a hora é de abrir os nossos corações e nossa consciência, porque são espaços onde Deus fala, e agir com mais responsabilidade. É preciso intuir as propostas e indicações de Deus para um mundo melhor.
Falamos de “salada de frutas”, que parece ser expressão que explica muito bem o que está sendo praticado no Brasil. Política deixando de ser uma verdadeira política; a religião deixando de ser verdadeira religião; a economia, que deveria ser estabilidade social e econômica, para defender os mais pobres, centralizada nas mãos de um pequeno grupo privilegiado e incapaz de partilhar.
A grande pergunta que surge em nosso pensamento é esta: onde estão as diretivas divinas se, em diversas situações, o que reina mesmo é a exploração, como um verdadeiro assalto contra o direito à dignidade dos excluídos? Não é fácil dar uma resposta mediante uma corrupção instituída e sem perspectiva de mudança. Mas temos que acreditar na ação de Deus, transformando a conduta das pessoas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba