Quando falamos em Educação, dois pontos importantes, entre outros, se me apresentam.
O primeiro deles se refere à necessidade de que família e escola trabalhem com as crianças e os jovens a aquisição do discernimento no comportamento familiar, escolar e na sociedade como um todo.
Discernir, como registra o dicionário da Academia Brasileira de Letras, é “perceber ou distinguir com clareza”. Segundo alguns psicólogos, a educação deve começar até mesmo antes do nascimento. Após o nascimento, aí, sim, inicia-se o processo mais objetivo de condução educacional, para que os seres em formação comecem a adquirir, e continuem adquirindo, noções básicas de como agir, distinguindo aquilo que pode e deve ser feito daquilo que não pode e não deve ser feito, de acordo com valores a serem seguidos.
É comum, por exemplo, vermos em supermercados ou lojas de brinquedos criança, ainda na tenra idade – três ou quatro anos, até menos, dando birras constrangedoras diante de algo que esteja exigindo dos pais: às vezes chega a deitar-se ao chão, chegando, como se diz popularmente, a “beber o fôlego”. Certos pais, para fugir do constrangimento, atendem ao pedido da criança que, sem derramar lágrima alguma, cessa a birra e o espetáculo. E assim, de concessão em concessão, manipulando os pais, o comportamento de crianças com tal educação estende-se para a escola e é nela que procuram continuar a tirania no relacionamento com professores e colegas. Nesse ponto, já não existe o conceito do certo e do errad o certo é o que satisfaz a qualquer custo e o errado é aquilo que é negado, sem nenhuma noção de limite.
Começa, então, o trabalho da escola com os pais que, tendo já perdido a direção educacional sobre o filho e temendo contrariá-lo, muitas vezes preferem mudar de escola e tentar outro ambiente em que a criança não seja contrariada, a despeito de suas atitudes.
Na adolescência, quando já se definiu tal trajetória torta, o constrangimento ainda é maior: jovens que, diante de comportamento irregular, simplesmente afirmam nada terem feito diante – por incrível que pareça! – do assentimento dos pais. Para estes, o erro está sempre no outro – seja professor ou colega – que agrediu primeiro, que é incompreensível, e tudo mais. A partir daí, já se sabe a direção que tais jovens seguirão...
Outro ponto diz respeito à hierarquia, que seria a ordenação respeitosa dentro de um grupo social, de acordo com a maior ou menor importância dentro desse grupo. Assim, no grupo familiar, os filhos devem respeito aos pais e até a outros elementos da família. No grupo escolar, os alunos devem respeito aos educadores. Infelizmente, não é o que temos visto, no comportamento de algumas crianças e de alguns jovens. Talvez seja decorrência da falta de discernimento que, conduzindo à ausência de limites, provoque nos educandos – filhos e alunos – a certeza de que são os donos da verdade e se sintam superiores aos pais e aos professores: nunca estão errados em nada, tudo o que fazem está correto, inclusive destratar os pais, até na frente de estranhos, e agir da mesma forma no ambiente escolar. O pior é ver pais que se amedrontam diante da postura desrespeitosa dos filhos e, em decorrência, defendem-lhes as atitudes ou simplesmente as ignoram.
Possível consequência futura de tudo iss pessoas desajustadas, voluntariosas, donas da verdade, desrespeitosas com o semelhante, egoístas e manipuladoras.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
