Você sabe o que é uma discussão bizantina. É aquela que não leva a nada
Você sabe o que é uma discussão bizantina. É aquela que não leva a nada. Alguns teólogos da cidade de Bizâncio levaram muitos anos discutindo se Adão tinha ou não tinha umbigo. É coisa que não interessa a ninguém.
Estão discutindo nos jornais se os sinais religiosos (crucifixo, por ex.) devem ficar expostos em recintos estatais, já que o Estado é laico. Todo mundo sabe que a Rainha da Inglaterra é a chefe religiosa e somente um anglicano pode ser primeiro ministro. E lá ninguém briga por isso. A Suécia tem uma igreja oficial, o luteranismo e ninguém lá perde tempo em discutir tão pífio assunto. Você sabe que em vários países da Europa a cruz é exibida em suas bandeiras?
Talvez você já tenha lido a Constituição Brasileira (sei que não leu...), por isso lembro apenas o Preâmbul “Nós, representantes do povo brasileiro, promulgamos sob a proteção de DEUS, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”.
Bem, se você quer laicizar o Brasil, então a limpeza deve ser geral. Seria bom começar pela derrubada da imagem do Cristo lá no Corcovado. Aquela imagem é uma afronta ao pensamento livre do brasileiro inteligente. Depois seria bom trocar o nome de vários Estados do país: São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo. Milhares de cidades deveriam mudar de nome: São Luiz, Salvador, Natal, Santos, Belém, Aparecida e outras mil. Só assim o Brasil seria um país laico, sem imposições religiosas. Isso é coisa da Idade Média.
No fundo esse tipo de discussão é um recurso malandro para afastar o povo da “cachoeira” de problemas que afogam a Nação. A corrupção da Câmara, do Senado, do Judiciário. Estamos sendo literalmente assaltados por um bando de ladrões. Não sabemos nem como reagir. Sem falar nos problemas da saúde, da educação, das drogas, dos problemas agrários, da moradia, da segurança. Será que derrubar o Cristo lá do Corcovado vai resolver alguma coisa? Mostrar que somos um povo livre?
Você pode até se assustar, mas sou a favor de tirar o Crucifixo do Senado, da Câmara, do Judiciário, das Delegacias. Não por motivos laicos, mas por vergonha de ver a imagem de nosso Salvador submetido àquela “cachoeira” de corrupção e de bandidagem. Tenho vergonha das cenas.
Tudo isso me faz lembrar de um antigo amigo meu, o Jocelino. Assistiu a quase todas as Copas de Futebol Mundial enquanto teve forças. Era muito divertido. Pois bem.
Várias pessoas foram convidadas pela TV Manchete para descrever a Praça de sua infância. O Jocelino foi escolhido para contar como era a Praça de São Benedito em seu tempo. Ia tudo bem até que o Jocelino, no ar, contou o seguinte: “Ao lado do barzinho, havia a casa das ‘mulheres’. Era um lugar de muito respeito. Todas se apresentavam vestidas e, nas paredes, havia uma grande imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo e um terço de contas de madeira, enorme. Ninguém contava piada porca. Era um lugar sadio.”
Por favor, procure me entender. No meio da simplicidade e sinceridade daquela gente, Jesus não se sentia tão envergonhado.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro