Um dia, um cisne morrerá por certo
“Um dia, um cisne morrerá por certo./Quando chegar esse momento incerto,/No lago, onde talvez à água se *tisne,/Que o cisne vivo cheio de saudade,/Nunca mais cante nem sozinho nade,/Nem nade nunca ao lado doutro cisne.” Nestes versos, o poeta Júlio Salusse emoldura a oração do verdadeiro amor. Que o cisne vivo cheio de saudade,/ Nunca mais cante nem sozinho nade,/Nem nade nunca ao lado doutro cisne. Em quantas criaturas, o elo feliz desse sentimento as faz unidas. Noutras, sem tal prevalência, o elo do convívio se desata. Não falemos daquelas brindadas do afeto na igual beleza dos versos de Júlio Salusse. Falemos sim, daqueles dois corações que fracassaram. Falemos sim, do célere rumo que por vezes toma o sentimento que uniu duas criaturas. Mentiram-se? Certamente não. Quem sabe, incógnitas razões que vem de longe? De há muito sabemos que a ciência tão só reconhece como verdadeiro, aquilo que se comprova—mas, além daqueles horizontes que a ciência vislumbra, outros existem a nos fazer sentir que a vida não se finda ao pé do último horizonte, a nos fazer sentir que somos partículas dentro do círculo repetitivo da vida que fecha dentro de si, o que ainda carece do ajustamento e da evolução espiritual. Muitas criaturas, mesmo nós quem sabe, ontem fugidios daquele sentimento, voltamos hoje buscando encontra-lo no aconchego do lar; o Manso Lago Azul?... Quando as mãos na alegria do amor se apertam, o Manso Lago é sempre Azul, sem névoas e sem espumas. Quando não, ainda um mar revolto para dois cisnes de alvacentas plumas. Nesse afã, no turvamento dos desencontros, quantos corações lutam sozinhos buscando manter sereno, o Manso Lago Azul. Por vezes, triste verdade: “Aquele que mais ama, é sempre o menos amado.” Pobre coração que almeja estar no Manso Lago Azul, como aqueles dois amantes cisnes. Luta e sonha desvendar o porquê tanto se prende ao coração indiferente. Quem sabe?... Quem poderá contestar que “O coração que mais ama” e o “Coração indiferente,” sejam do passado, pedaços esquecidos do que foram? Quando ontem não enfeitaram o Manso Lago Azul, voltarão um dia a enfeita-lo na beleza dos retornos porque, os encontros das almas não são caprichos do acaso e sim, laços misteriosos nos vaivéns de nossas repetições. A vida em seu todo, é muito mais que o simplesmente existir. Não se vem a ela como um simples nó que se aperta sem sentido algum de segurar. A ela se vem sim, para no Manso Lago Azul, amar um ao outro, como aqueles DOIS CISNES DE ALVACENTAS PLUMAS.
“Cisnes.”
Júlio Salusse.
Dois últimos tercetos
*Tisne - escurecido (a).