Crônicas de fim de ano são de assuntos difíceis, pela falta de originalidade. São os casos do Natal, amores, lembranças e promessas – ou são os do Ano Passado, igualmente amores, lembranças e o que se vai prometer. De entremeio, apenas as festas de todas as qualidades, o mundo se abraça, Noite Feliz, Feliz Ano Novo! Pois é, meus amigos, aqui estou nesta crônica final de 2009. Sem assunto, horrorizado de repetir tudo que todos escrevem e terminam teimosamente: Feliz Ano Novo. Mas não, Deus sempre me acode em mudar e modificar, manda-me uma mensagem, alguma coisa ou algum “causo” novo. “Vam lá”, diria o Dino, “que qui houve?” Pois é, meus amigos, o bom Deus me deixa contar um caso que nem é novo nem original, mas me deixa escrever-lhes pelas histórias e exemplos nele embutidos. Vou em frente, já escrevi crônicas e elogios aos agentes humanos que lutam pela sobrevivência e segurança nacional.
Já falei de bombeiros, de policiais e militares que são profundamente fixados em preservar e salvar os paisanos. Sobre polícia rodoviária já vi e contei de sua perigosa profissão, salvar acidentados, pular na frente de caminhões e carretas, muitos morrendo neste difícil dever – não é preciso detalhar, basta ler sobre os que cercam bandidos e assassinos no trânsito rodoviário. Sei – e outros também – que nesta profissão difícil existe uma linha marginal que aproveita favores financeiros – mas nada tão sério ou grave como as cuecas e meias de Brasília. Acontece que a sociedade é composta por nós todos, e nasceu daí o incidente e assunto desta crônica de dois policiais rodoviários, neste caso presente. Conto eletricamente.
Eu vinha da fazenda com o Luciano, meu gerente e chofer, no meu sofrido Golf preto e vermelho, que há dias tinha sofrido acidente, arrancada e amassada a sua placa da frente. A gente entrava ali pelo encontro das BR 262 e BR 050, dentro da cidade. Um braço autoritário de policial rodoviário ordenou parar. Encostamos. Documentos? O Luciano puxou todos, e mais carteiras e etc. O morenão rodoviário perguntou pela placa da frente, Luciano explicou-se que faltava por estar em reforma do amasso. Pouco prosa, o guarda já lavrou a multa, e recolheu nossos documentos. Distraído, talvez, colocou no auto de infraçã conduzido sem placas, mas em observação disse e escreveu: tem a placa de trás (ou seja, a que mais identificaria o veículo e sua gente) Luciano gemeu, a placa amassada nem vou lhes mostrar... resultado zero.
Saímos multados e sem documentos. Andamos quinhentos metros, o Luciano pegou a placa dianteira amassada, ordenei voltarmos ao policial número 1. Mostrei a placa, ele nem olhou, ficou P da vida, aconselhou-me rudemente a ser humilde (?), nem considerou seu erro na autuação. Moral: aí eu fiquei P da vida, fui ao posto da Policia ali no Delta, onde me recebeu o segundo guarda, Gilmar, um policial jovem, educado, estuda advocacia e tem boas maneiras – além de ter estado presente na valentia grosseira do policial um. Este Gilmar disse que me conhecia, e até respeitava, mas que se eu recorresse da multa iria perder na Jari. Conversa amável e de alto nível, nem policial inglês faria melhor. Quase duas horas de conversa, escureceu e eu nem senti. Pensei, aqui e depois: dois policiais exemplando as diferenças humanas.
Custa ser amável, atencioso, dialogar, crescer como espécie e direito humano? Penso que não, e sei que as promoções na vida não se baseiam em número de multas e deseducações. Valeu, Gilmares da vida, 2010 ainda permanecerá vivo.
(*) médico e pecuarista