Um pé de sensitiva escondido num cantinho do quintal aguçou-nos a curiosidade sobre a plantinha. Com uma varinha, fomos até ela para dar um toque num de seus galhos. E, então, as folhinhas se fecharam, vagarosamente.
Esse gesto nos fez voltar aos tempos de criança, quando as ruas, ainda sem calçamento, ostentavam considerável quantidade dessa plantinha. Em todas era inevitável o toque com uma vara ou com a mão, para observarmos o lento fechar das folhas. E, enquanto tocávamos a planta, dávamos a ritmada ordem folclórica: “Maria,/ fecha a porta/ que o soldado/ vem!” Em verdade, nunca falávamos o “vem”, mas “envém” – palavra inadmissível na língua culta, mas perfeitamente aceita na linguagem do folclore.
A sensitiva, conforme o dicionário Houaiss, é “da família das leguminosas, (...) com folhas penadas, que geralmente se contraem quando tocadas”. É também conhecida como dormideira, arranha-gato, juqueri, malícia, malícia-de-mulher, maria-fecha-a-porta, mimosa.
E qual a razão da vinda desse soldado? Talvez porque, na época, o soldado fosse o bicho-papão, o terror da criançada. Ou pelo menos todos os pais faziam os filhos crer nisso. Para que o menino que estivesse na rua voltasse rápido para casa, os pais ameaçavam chamar o soldado. Logo, logo, o menino estaria sob controle, de volta ao próprio lar e, vale dizer, toda a meninada que antes brincava na rua.
Osório Alves de Castro, autor do livro Maria fecha a porta prau (isso mesm prau) boi não te pegar, explica o linguajar das barrancas do São Francisco. Tudo indica que certa vez um enorme boi caiu sobre o telhado de uma casa. E cada vez que alguém batia nos galhos de uma sensitiva, dava tal ordem à planta, ou um boi bravo poderia entrar nas casas, como aquele o fez, e fazer estrago. Pode ser que, cá pelas bandas das Gerais, o soldado tenha sido substituído pelo boi, ajudando os pais a colocarem ordem na prole.
Bem a propósito, foi há anos, no programa Roda Gigante, que a Polícia Militar de Minas Gerais entregou as primeiras carteirinhas do projeto “PM, o amigo legal!”, voltado para as crianças. Hoje as crianças estão mais informadas, entretanto, naquela época, tinham certo medo dos policiais. Com o projeto, elas passaram a se sentir protegidas por eles.
E a dormideira continua na sua tarefa de fechar as folhas, quando tocadas, possibilitando-nos mil doces lembranças...