O Brasil inteiro viu na televisão aquele helicóptero incendiado pelos tiros que traficantes marginais lhe desfecharam – um revida à agressão, porque a polícia lhes vem castigando
O Brasil inteiro viu na televisão aquele helicóptero incendiado pelos tiros que traficantes marginais lhe desfecharam – um revida à agressão, porque a polícia lhes vem castigando em suas visitas ao morro. Isto agora é acontecimento diário nos pontos capitais da droga. Um dia matam policiais, no outro dia policiais se vingam matando bandidos que não conhecem, e de embrulho jovens inocentes que têm o azar de morar ou passar por ali. A guerra não acaba, marginais novos substituem seus mortos, policiais substituem os seus, a guerra do tráfico continua de mal para pior. Nós assistimos os casos de horror que a TV exibe, mas ignoramos os dos nossos quintais, que não têm Ibope nos jornais e nas televisões – são crimes igualmente horríveis, mas de baixa assistência, o nosso interior não tem valor nem na criminologia. Um corpo é encontrado num canavial perdido, às vezes sem cabeça ou castrado, notícia de um dia, é mais um pro cascalho, como diz o filósofo Dino. Bem, vou voltar pensando e lendo uma crônica que escrevi em primeiro de julho passad o mundo é uma droga... Naquela crônica eu contei um pouco das misérias da droga, casas queimadas, mães e filhos na desgraça e abandono da rua... e até minha pobre sugestão e ideia de remédio. Eu disse – por escrito – que alguma coisa teria que ser feita, ou o mundo acaba com a droga, ou a droga acaba com o mundo. Qualquer ser vidente sabe como isto é verdade, mas nenhum ser vivente pensa ou se preocupa com a solução. Ou quem pensa – e eu estou nessa – não tem poder algum para tentar alguma solução.
Olhem a simplicidade que eu sugeri: drogas, gente, são remédios. Remédios para a infelicidade, a pobreza, o abandono social, a ignorância, a desigualdade entre pobres e ricos, entre os azarados e os sortudos. Hoje todo mundo vive e sofre destes problemas, não há psiquiatra nem psicólogo que não receba a visita do pobre ou do rico, com a queixa básica: ah, doutor, estou tão deprimida! Ou angustiada, ou nervosa, irritada e sofredora. Aí o médico dá uns conselhos sempre com uma receita azul de psicotrópico – e a vida vai rolando. Pois bem, foi esta a minha receita para a droga: ela é também um psicotrópico, apenas de consequências criminosas... porque é proibida e perseguida. Contei o que eu faria, se fosse governo (e macho também...): descriminalizar a droga. Seu usuário matricula-se no SUS – controle de droga, a ser criado. Dá sua identidade completa, e o remédio que usa (droga!) que passa a receber do governo em farmácia, receita e controle oficial: só aquele e aquele tanto! Preço? Uma quirela, e sua receita tem validade nacional, hoje de controle computadorizado e simples... O traficante? Bem, não há negócio que preste se não tem freguês. É fácil? Vejam o exemplo dos atuais psicotrópicos, uma moleza. Experimente comprar rivotril (ou diazepam) sem receita... Agora, o que é difícil? Gente, difícil é o interesse e covardia dos nossos governantes. Queremos copa, olimpíada, pontes e canais, rodovias e carnavais, em tudo a marcha é alegre e festiva... sem contar comissões e parceragens... Termino com o meu sofrido grito de guerra: abaixo os políticos de merda que infestam este Brasil. Pessoalmente, e em pobre protest aqui em Uberaba temos quatro deputados federais, um estadual e um governador (tem senador?). Aviso-lhes: não votarei em nenhum deles. Não riam nem debochem de mim. Um voto vale muito pouco, é verdade. Mas, quem sabe... quem sabe... quem sabe...
(*) médico e pecuarista