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E as crianças, senhor?

“Que quem já é pecador/ sofra tormentos, enfim!/ Mas as crianças, Senhor,/ Por que lhes dais tanta dor?!... Por que padecem assim?!...” Estes versos marcaram minha infância.

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:43
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“Que quem já é pecador/ sofra tormentos, enfim!/ Mas as crianças, Senhor,/ Por que lhes dais tanta dor?!... Por que padecem assim?!...” (Balada da Neve – Augusto Gil)   Estes versos marcaram minha infância, inseridos que estavam em livro de leitura do antigo curso primário. Notou o poeta que, enquanto uma criança caminhava na neve que ia se avolumando no chão, suas pegadas afundavam cada vez mais. Pés descalços, o que causava sofrimento para essa criança andarilha. E Augusto Gil termina de forma marcante seus versos, colocando neles sua angústia: “E uma infinita tristeza,/ uma funda turbação/ entra em mim, fica em mim presa./ Cai neve na natureza,/ e cai no meu coração!”   Todos os que acompanham, uma vez mais, os horrores da guerra que travam israelenses e palestinos não conseguem ficar alheios ao sofrimento das crianças dos dois lados do campo de batalha, vítimas da crueldade humana. Ou da insensatez dos homens.   Há tempos, foi noticiado um flagrante avanço na construção de bombas a serem lançadas sobre o inimigo, em razão da destruição de edificações em batalhas. Criaram uma bomba inteligente, capaz de destruir pessoas, sem danificar prédios ou outras construções, como pontes, viadutos e canais. Os construtores de bombas poderiam avançar um pouco mais com sua tecnologia e inventar uma bomba capaz de atingir apenas combatentes em conflito, ou seja, os homens armados, mulheres guerreiras, espiões.   Seriam poupados todos os civis e, principalmente, as crianças. Jornais que fazem a cobertura da guerra estão sendo criticados por colocarem fotos da verdadeira chacina de civis, com destaque para as crianças atingidas. Muitos leitores prefeririam ser poupados dessa horrenda visão. Entretanto, talvez seja oportuno todos vermos o que de fato acontece no campo de batalha. As bombas ainda não são inteligentes para escolher apenas os guerrilheiros.   Quando um cidadão resolve se explodir em algum ponto comercial de Israel, é certo que levará consigo soldados israelenses e muitos civis e, no meio de tudo, crianças. O mesmo acontece quando são lançados foguetes contra o território israelense. Muitos explodem sem deixar vítimas, sem causar danos. Outros, porém, fazem estragos materiais e causam vítimas. E todos os foguetes lançados acabam criando um grande trauma na população. Uma foto de uma mãe deitada no chão com seus dois filhos, em Israel, não deixa dúvidas a respeito do terror que o foguete causa, ainda que não atinja qualquer alvo. Os rostos das crianças mostram um pavor intenso.   Como é que o poeta Augusto Gil descreveria momentos de guerra em suas poesias? Como expressaria sua tristeza, agora, vivenciando tais horrores? As armas israelenses são letais, poderosas, contudo, o inimigo de Israel tem em seu arsenal a mais mortífera arma de uma guerra: o ódio no coração. Arma imbatível, cruenta, terrível. Arma que alimenta a guerra.   E para que nunca nos esqueçamos de como é dolorosa a guerra para uma população que vive em territórios em conflito, vale registrar o doloroso lamento de uma mãe palestina que perdeu filhos em um ataque aéreo e oferecia ao seu filho de colo o restante de leite de uma mamadeira: “Por que a vida dos palestinos é tão barata para todo mundo?” “Cai neve na natureza, e cai no meu coração!”     (*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro mariosalvador@terra.com.br Mário Salvador escreve às terças-feiras neste espaço.      

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