Lendo a coluna de nosso amigo Wellington Cardoso do dia primeiro de dezembro, recebi o incentivo necessário para externar meus sentimentos de indignação e preocupação em relação à retirada dos adolescentes do PROBEM da Zona Azul.
Ele escreveu em sua coluna Falando Séri 1 – Que os menores serão retirados desse trabalho até o dia trinta e um de dezembro; 2 – Do conhecimento de trinta menores na porta da casa de conhecido traficante diariamente; 3 – Que tem imperado a quantidade de jovens mergulhados no crime em Uberaba, entre dezoito e vinte e seis anos...
E eu diria, concordando e ilustrando as afirmativas do citado colunista, que basta ler os jornais locais e observar a idade de quem tem matado e morrido em nossa cidade!
Como educadora que tenho tentado ser a vida toda, como alguém que já dirigiu um CAIC – Centro de Atenção Integral à Criança, como cidadã ex-conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Uberaba, como alguém que criou e presidiu por quatro mandatos uma Organização Não Governamental para acolher crianças e adolescentes órfãos e abandonados, aprendi a admirar e respeitar o trabalho do PROBEM como uma entidade que colabora com nosso objetivo de formar cidadãos.
Saber que meus “filhos sociais” – dos quais eu detinha a guarda legal perante o Juizado da Vara da Infância e Adolescência – teriam quando atingissem certa idade, uma atividade supervisionada por gente capacitada, horários a serem cumpridos, contas a serem prestadas, cursos para iniciação profissional e ainda recebendo um salário ao final do mês, sempre representou para mim uma combinação perfeita.
Todos eles atingiram a sua maioridade devidamente colocados no mercado de trabalho mediante sua trajetória no PROBEM. Tiveram diferentes empregadores como a UNIUBE, UFTM, Prefeitura Municipal, Supermercados, Livrarias, Floriculturas, Postos de Gasolina e outros, mas algo tiveram em comum: o início pela Zona Azul!
Que eu saiba, afora alguma gravidez fora de hora de algumas meninas depois que saíram da Casa Lar, não tive notícia de algum ou alguma tenha se tornado dependente químico, traficante ou marginal e, de uma forma ou de outra, estão se virando na vida sem terem se tornado notícia de jornal ou estatística de criminalidade.
Sou de uma geração que começou a trabalhar muito cedo e que está aí dando a sua contribuição social. Pensando nisso, o Estatuto da nossa entidade previa que, quando nossos assistidos começassem a trabalhar, seu salário seria dividido em três partes: uma para gastarem com o que quisessem e assim aprender a gerenciar o fruto de seu trabalho; uma parte para colaborarem com as despesas da casa e, com isso, aprenderem que viver tem custos financeiros, e a terceira parte era depositada em uma poupança que eles poderiam movimentar só após os dezoito anos.
Dessa forma vi chegar roupas e calçados novos, CD, aparelhos de som e outras coisas em casa, bem como vi o fruto de poupança pagar cama, fogão, mesa, cadeira e outros itens necessários para a estruturação da primeira moradia quando eles saíam da Casa Lar.
Sempre pensei também que, a exemplo de como a atividade da Zona Azul ajudava na educação e manutenção dos filhos de uma família social, isso deve ter acontecido em muitas famílias naturais. Basta ver homens de projeção política e social em nossa cidade que passaram por ela e hoje aí estão, para provarem que não foram prejudicados com essa experiência em seu currículo.
É bem certo que os tempos mudaram e que a sociedade hoje oferece muito mais perigos reais do que ontem, mas em minha opinião há um descompasso entre a realidade e o texto da Lei. Não são os adolescentes da Zona Azul que estão na porta de traficantes à luz do dia...
Além do mais, acredito que o ócio é oficina do diabo. E gente, em qualquer idade, sem objetivo, sem responsabilidades a cumprir, está fadada ao fracasso e a ser “adotada” por quem oferece dinheiro fácil, mas de origem duvidosa.
Fica aqui o desafi Como nós, os incomodados e incomodadas com esta situação, podemos nos unir para colaborar com iniciação profissional dos adolescentes do PROBEM que ficarão “desempregados” com sua retirada da Zona Azul?
(*) mestre em psicologia; terapeuta das Perdas e do Luto e palestrante