É preciso atender a tudo

Tenho uma certa dose de dó do meu prefeito Paulo Piau. Ele saiu daquela moleza de ser deputado federal em Brasília e veio a ser prefeito de Uberaba – uma troca de alto risco. Um deputado trabalha em seu gabinete, tem uma secretária treinada e eficiente, e seus eleitores ficaram lá longe. De amolação é só daqueles prefeitos e uns poucos políticos pedindo favores de toda espécie, uma verba para associações e parceiras que o elegeram, quebrar o galho daquele fiscal que deve ser transferido, um delegado que prendeu seu cabo eleitoral – tudo coisa miúda e personalizada. Dureza, se o deputado pretender, é subir na escala política, liderança regional, eventual senador ou ambicionada indicação para governador. O povão que o elegeu está distante, apenas algum cabo eleitoral vai lhe pedir um favor, alguma grana para pagar colégio do filho ou casamento da filha, coisa de pouco incômodo que, se falhar, ninguém vai saber ou protestar. Já ser prefeito... aí a coisa muda muito. Começa que ele fica pregado na sua cadeira de seu gabinete, atendendo diariamente e às vezes noitemente uma multidão de “seus eleitores”. E vêm os vereadores com suas ideias e programas, eles também defendem seu pão... ou o voto de cada dia. Sim, meu bom leitor, a política é uma praga ou namorada exigente, e o prefeito tem todas as responsabilidades no resultado. Se este for ruim, pau no prefeit ele é o culpado. Se der certo, o vereador diz que foi ele e sua capacidade – e muitos já pensando na SUA candidatura futura. Ou seja, como o Piau do nosso rio, ser prefeito é gelada... que dura quatro anos. Agora, se o destino for complicador, manda esta epidemia de dengue, rede hospitalar deficiente, atendimentos problemáticos... O prefeito recebe o peso de tudo, mas está dando atenções a causas que julga mais importantes, o campo de aviação a dividir com Uberlândia, o projeto ideal da amônia, grandezas que podem lhe dar fama e nome. Piau, amigo, se a questão da saúde não tiver toda necessidade e acompanhamento... os votos futuros... sei lá o que irá acontecer. Eu me lembro de mais uma do sábio Dino, passando bezerros no curral. Um bezerro mais brabo e enjoado negou porteira, voltou pra trás... e o Dino largou a manada, foi lá e trouxe o danado a poder de paulada. No simples, disse: em boiada você tem que atender a tudo, um safado que escapa serve de exemplo pro resto...

(*) Médico e pecuarista