Este Jornal aos sábados, reserva-me
Este Jornal aos sábados, reserva-me um espaço de 40 linhas para o escrito que lhe envio. Tenho não necessitar de todo esse espaço para lhe perguntar se no dia consagrado às mães, você se lembrou de levar-lhe uma flor? Ah!... De fato, ninguém, mãe alguma está sob a gelidez do mármore que ostenta a saudosa legenda—todos sabem disso—não importa. Ali, o coração, o pensamento e as flores, se transfundem na oração da saudade, do amor e da gratidão. Tenha certeza que ela lhe esperava. Como você não foi certamente se entristeceu. Mesmo assim, por ser mãe, sem ressentimento, lhe beijou as faces e, você não sentiu. Toda mãe faz isso. Esse amor, esse carinho, essa preocupação da mãe que sempre espera, desde quando eu ainda criança, escuto cantada no propósito da linguagem simples de sua regiã “*Pescadô que vai pra pesca,/ Na noite de temporá,/ A mãe fica na praia,/ Esperano ele vortá”. Imensa verdade: Mesmo em meio do horrendo temporal, “A mãe fica na praia, esperando ele voltar.” De olhos abertos, ontem, vi no “Campo Santo”, um paraplégico em sua cadeira de rodas, levando sobre suas pernas adormecidas, lindas rosas para a sua mãe que, por certo, sorrindo já o esperava. Muitos outros que por mim passaram, levavam flores. Ainda atento, me deparei com outra criatura sozinha, me parecendo demais enfraquecida e doente. Amparando-se em tosca bengala, com lentidão arrastando uma perna, seguia vagarosamente com um punhado de pequenas flores para a sua que também o esperava. Você não foi!... Se você tivesse ido como tantos outros, teria alegrado a sua mãe, também. Não fosse ela aceitando como compromisso esse tributo de lhe dar a oportunidade da vida, onde por certo ainda estaria você? Mesmo assistindo ao um filho enfeitando com flores o jazigo ao lado, sua mãe pelo amor que lhe tem, não guarda na lembrança que você não foi. Sérias leituras nos dão conta que um dia, estaremos no outro lado da vida e, que tudo fica registrado no cartel de nossa passagem por aqui, nada escapando da “Justiça Divina que nos espreita em todos os momentos.” Tudo se estampará como num grande espelho, onde você, eu, ele e todos nós, nos veremos frente a frente com a nossa consciência. Esse é o instante em que o homem se deparará com a imagem de si mesmo e com o que vivenciou. A voz da consciência nos convida a evitarmos os descontentamentos surpreendentes no amanhã. Sempre que se julgar preciso, mude a cadência dos passos no caminho a ser percorrido. Da Espiritualidade, diz o poeta em seu soneto, psicografado por Francisco Cândido Xavier: “Porque, um dia, ante o tempo que te espreita,/ Receberás os frutos da colheita,/Na espécie de semente que plantastes.” Volta lá... Não se esqueças das flores.... Volta lá... Ela ficará feliz... Muito feliz...
“Pescadô que vai pra pesca...”
Dorival Caime (compositor.)
Soneto “Apelo ao Viajor”,
Poeta-Arlindo Costa- Antologia dos Imortais, pág.57