Impressiona-me ver, ler e sentir o que a sociedade humana dedica à mulher. Penso – há muitos anos – que há coisas a serem discutidas, no mínimo o quase desprezo da figura masculina, o pai por exemplo. Para uma revisão elementar, volto na minha infância, família e sociedade. De início ressalto o valor e a coragem de minha mãe, que saiu do Prata para casar-se com meu pai – um coronel Geraldino dos antigos, então viúvo... e com 14 filhos do seu primeiro casamento! Minha mãe enfrentou a parada, e teve também 14 filhos (empatando o jogo...). Dona Elvira recebeu todas as homenagens, merecidas, justas, e até hoje toda a nossa família lhe dedica especial veneração. Isto, de passagem, não é fato único e isolado – viúvas aconteciam muitas, as doenças de envelhecimento eram precoces... e os homens, normalmente mais velhos e expostos ao trabalho e doenças, iam embora mais cedo. Meu pai Geraldino aguentou a barra dura de duas filiações, conseguiu com minha mãe a união e sobrevivência dos irmãos desiguais. Pois é, meus bons leitores, o nome e o respeito social pela dona Elvira foram – e ainda são – citados como exemplos. Contam, falam e escrevem sobre sua religiosidade, amor familiar, trabalhos pelos desvalidos meninos e velhos. Eu mesmo já umedeci lágrimas nestas lembranças distantes. Agora, e de repente, passei dos oitenta anos masculinos... e descobri que homem velho vira página esquecida, virada. Ninguém se lembra da luta que enfrentavam para ganhar o sustento da família, o colégio dos filhos, os primeiros anos de suas profissões. Meu pai já tinha mais de setenta anos que me dedicou, tinha mais de oitenta quando foi ao Rio assistir minha formatura em Medicina... e morreu seis meses depois desta alegria, sem conhecer meu trabalho, os eventuais sucessos, alguma assistência que eu poderia dar... Morreu de infarto, nós, filhos mais novos... nunca lhe agradecemos. Chorei na morte de minha mãe. A morte de meu pai foi súbita, senil, traiçoeira... eu nem pude chorar, dizer “obrigado, pai”. Agora, tantos anos passados, conto quantos pais foram tão importantes e tão esquecidos em sua vida... e em sua morte. Amigos que me leem, desculpe-me lembrar alguma coisa de triste na minha crônica. Não é meu estilo, vocês sabem. Hoje, nem sei por que, isto flutuou em minha cabeça e escrito. Não valem homenagens póstumas, mas lá onde ele está, pelo menos uma oração posso lhe enviar, começand PAI NOSSO, QUE ESTAIS NO CÉU...
(*) Médico e pecuarista