Dia 24 de fevereiro, uma quarta-feira, ficará marcado no calendário de minha vida como um dia de significativas mudanças. Nele, tomei a consciência de que está definitivamente encerrada a era de só enterrar os pais e avós dos amigos e iniciado o tempo doloroso de enterrar os amigos da mesma safra que eu – ano de 1954.
Foi um dia de pensar que o tempo da folhinha nem sempre bate com o do nosso coração. Um misto de tanta coisa vivida e do ainda por viver. Foi assim que me senti no velório do meu amigo pessoal, servidor público municipal e colega de profissão, Arquimedes de Oliveira Bessa.
Revi muitas pessoas que lembraram diferentes momentos de uma trajetória de mais de 40 anos de caminhos cruzados. Vi idosos, adolescentes e adultos jovens ou maduros com lágrimas nos olhos. Ricos, pobres, alto escalão ou servidores humildes, todos prestando sua última homenagem a alguém que conseguiu ser unanimidade na opinião alheia e que, conforme disse seu irmã “ninguém estava lá por curiosidade”...
Irmão este que foi muito feliz ao utilizar-se de uma estória para descrever Arquimedes e que tento aqui repetir de forma bem sucinta. Segundo ele, um pai passeava com seu filhinho numa montanha e a criança começou a gritar palavras que eram repetidas pelo eco. Indagando ao pai sobre o que era aquilo, este lhe respondeu que os outros chamavam de eco, mas ele chamava de vida, porque ela também é assim: tudo que espalhamos durante a mesma recebemos de volta.
Assim foi Arquimedes, um semeador de coisas boas que foram retornadas com clareza em seu adeus final. Penso que cada um ali presente teria muita coisa boa para contar em sua experiência com ele.
Será difícil esquecer seu sorriso, mesmo nos momentos mais difíceis; seu vigoroso aperto de mão, seu abraço sempre acolhedor. Sua humildade, ética, honradez, honestidade e competência.
Só sinto pesar pelos muitos combinados que fizemos e que íamos adiando, acreditando que teríamos muito tempo pela frente. Fomos colhidos de surpresa com seu rápido adoecimento e consequente falecer.
O que fica para mim com a morte de Arquimedes? Que agora o tempo urge porque minha safra começou a ser recolhida. Que nós não podemos mais adiar nossas pendências, sonhos e desejos, porque, assim como ele, poderemos ser chamados a qualquer momento a deixar este corpo que nos serviu até agora e realizar a nossa passagem para o mundo espiritual, carregando a mala repleta do que conseguimos espalhar e recolher...
E que, quando chegar esse momento, tomara que ela esteja repleta, mas não pesada, segundo o exemplo do meu querido amigo!