Quando terminou o jogo, eu suspirei fundo
Quando terminou o jogo, eu suspirei fundo, saí na área externa, olhei o céu azul... afinal, a copa era nossa! Não vou explicar tudo e por que, apenas contar algum pouco da minha história entre copas do mundo e Brasil meu, afinal nem todo mundo conseguiu ver na sua terra e pátria duas copas mundiais entremeadas de 63 anos. Pois é, meu leitor amigo, eu assisti à famosa e dolorida Copa de 1950 – aquela em que brilhamos até a última batalha, o jogo no Maracanã, ainda mal-acabado, uns 200.000 brasileiros cantando contra a Espanha: eu fui às touradas de Madri, para tibum-bum-bum... Pois é, eu estava lá dentro, saindo do plantão no serviço militar do CPOR, e pensava: o Uruguai vai levar graxa, a Espanha era melhor e... Pois é, quem era vivo vai se lembrar daquele um a zero, Gighia e uruguaios explodindo alegria, o Brasil dos maiores craques – Barbosa, Juvenal, Ademir, Zizinho... chorando com esta pátria amada. Pois é, não vou ver outra, pensei, como nós todos no estádio. Bem, o tempo passou, trouxe esta mágoa para a minha terra. Passaram-se as coisas brasileiras, suicidou-se Getúlio Vargas (a dois quarteirões da minha república...) e veio o carnaval político, Juscelino, Jango Goulart, depois o governo militar, agora há pouco o antimilitar de Lula com Dilma e todos os problemas desta linda e difícil nação... sem ganhar copa mundial no Maracanã... O meu tempo correu muito, com a profissão médica de alegrias e sofrimentos, Zé Humberto, meu santo padrinho e sofredor, morreram por aí meu pai e minha mãe, meus filhos crescendo e dando netos... eu já não tinha sonhos nem ilusões da Copa do Mundo. Quantos de vocês, que aqui estão lendo, pensam em ver e viver os mais de 50 anos que separaram as minhas duas copas? Eu, aqui encolhido, vi, sofri e gozei. Ou seja, meu amigo, entendo que a vida é uma sucessão de copas do mundo. Nem sempre será possível ganhar todos os jogos, aqueles que vivemos diariamente. Eu mesmo, como vocês todos, perdi muitas partidas, sofri as coisas da vida, chorei escondido, porque macho não chora... Apenas e sempre mantive o olhar distante e além quando sofrimento ou decepção acontecia. Afinal, penso, Deus é grande. Com esperança, penso que Ele me permitirá um gol final na vida, com a mão e na banheira, um a zero também é bom e me basta.