Procurando pôr em ordem meu arquivo, encontrei um escrito do saudoso Dom Helder, um dos maiores bispos que a Igreja do Brasil já produziu. Que ele, já na dimensão da eternidade, me perdoe a ousadia de transcrever aqui esta obra-prima, sem pedir licença:
“Agora que a velhice começa, preciso aprender com o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar do perigo terrível de, envelhecendo, virar vinagre.
É tão importante saber envelhecer! Saber descobrir o encanto de cada idade. Sem dúvida, há limitações que a velhice traz. Mas feliz de quem envelhece como frutas que amadurecem sem travo.
Feliz de quem envelhece por fora, conservando-se em compreensão para com tudo e para com todos, caminhando, sempre mais, no amor de Deus e no amor ao próximo.
Quem conserva acesa a sua chama, quem mantém entusiasmo pelo que faz, quem sente razões para viver, pode ter o rosto cheio de rugas e a cabeça toda branca, ainda assim é jovem!
Quem não entende a vida e não descobre a razão para viver e não vibra, não se empolga, pode ter vinte anos, mas já envelheceu.
Qualquer que seja sua idade, guarde estes pensamentos: ‘O importante não é viver muito ou pouco, mas realizar na vida o plano para o qual Deus nos criou. As rosas, a rigor, vivem um dia, mas vivem plenamente porque realizam o destino de graça e de beleza que vêm trazer à terra’.
Se sentir que os anos passam e a mocidade se vai, peça a Deus, para si e para os que se tornam menos jovens, a graça de envelhecendo, não azedar, não virar vinagre. Cada fase em nossa vida é única e como tal deve ser vivida. O dom da vida que nos foi dado deve sempre ser valorizado no momento atual, pois não sabemos até quando vai nossa missão nesse pequeno espaço que ocupamos.
Saber envelhecer e saber amadurecer pode ser uma arte, mas, com certeza, arte maior é saber desfrutar com todo sabor o doce de se tornar um pouco mais maduro a cada dia”.