Dia desses ao passar por uma de nossas ruas, vi um quadro inusitado
Dia desses ao passar por uma de nossas ruas, vi um quadro inusitado que você leitor(a), também gostaria de ter vist um dos nossos parlamentares federais em trajes bem comuns, sentado nos primeiros degraus da entrada de um prédio. Ali S. Exa. conversava com um amigo e podia observar as pessoas mortais transitando naquela movimentada rua. Senti como se um “semideus” tivesse descido ao plano dos homens.
Vendo o legislador sentado próximo ao chão e às vistas de todos, lhe expressei incontinenti o meu prazer e ele demonstrou ter entendido muito bem a minha observação. Segui em frente com o pensamento de que, se o deputado quiser, o lugar público onde ele estava pode ser usado como grande pesqueiro de ideias. Melhor dizendo; é estando próximo ao povo que o político pode criar leis de benefício geral. Pena é que a cena do deputado sentado na escada, não se repetirá tão cedo.
Diante da violência que nos assola e do estado indolente dos políticos responsáveis pela criação de leis, sou autorizado a perguntar: esperar mais o quê? Lembrei-me que recentemente viajei em veículo aéreo ao lado de dois deputados e fiquei pensando na nossa “desigualdade”. Enquanto temos que ralar no asfalto engolindo buracos e perigos de toda ordem, eles vão por cima deliciando a brancura das nuvens. Enquanto morremos nas mãos dos bandidos, eles assistem a tudo como se estivessem noutro mundo. E assim seguimos; eles no céu e nós na terra...
Para os parlamentares não lhes falta nada. E para nós? Senão tudo; quase tudo. Está certa uma leitora que pontuou a mim dia desses: “Se juntarmos as notícias sobre violência em um só canal de televisão ou rádio, teríamos programas para as 24 horas do dia, sem intervalos.” Pessimismo? Não. Esta é a nossa realidade e a audiência nesse segmento é disputada palmo a palmo, aliás, bala a bala.
O deputado visto sentado na via pública, de forma nenhuma me fez imaginar que esteja subliminarmente à busca de votos. Se algum jovem perspicaz tivesse passado pelo local, teria fotografado o excelentíssimo e postado sua foto nas redes sociais. Como explicar aquele gesto simples e “anormal” que a rigor deveria ser normal?
Muito fácil a explicaçã quando o cantor Agnaldo Timóteo vendeu CDs na Pça. da República em São Paulo, muitos o ironizaram e ele sagrou-se vencedor na eleição à Câmara Municipal. Depois se elegeu a deputado federal. O nosso representante legislador que vi sentado nos degraus da escada, com o seu gesto simples, terá o mesmo destino?
(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO. MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO.