Naquele momento na canoa, Estamos Realizando, nos foi motivo para gostosas gargalhadas. Sem conhecer alguns detalhes, não há por que achar graça. Mesmo conhecendo, pode-se até admitir que a frase; Estamos Realizando, não seja lá motivo para graça alguma. De fato... Mas, a sua historia ajuda a entender o porquê achamos muita graça.
Certa ocasião, de uma imobiliária, cogitávamos comprar uma chácara. Naqueles dias, o comércio estava num paradeiro horroroso nunca sentido. As vendas haviam caído horrivelmente. Todos se queixavam e diziam que nunca haviam sentido situação igual — mas, parece que para aquela imobiliária, esconder a verdade era importante tática comercial.
Ao olharmos a chácara, um corretor nos acompanhava. Percebia-se logicamente, que o seu ganho estava atrelado ao que vendia. É o comissionado. Se vende ganha, se não vende, nada tem a receber. Por fim compramos a chácara. Logo no primeiro mês, fomos ao escritório pagar a primeira prestação. As vendas continuavam paradas como não se podia imaginar. Grande prejuízo para a imobiliária e para os comissionados também. Assim que chegamos, lá estava aquele corretor encostado na porta, muito magro, despenteado, tristonho, calado com a mão no queixo deixando transparecer preocupado com o paradeiro.
Mesmo assim, escondia a verdade. Ao lhe perguntar simploriamente como estavam às vendas, ficou indeciso, batendo levemente uma mão sobre a outra, como quem busca tempo para a melhor resposta. Demais sem graça e de cabeça baixa, nos respondeu com um “É” muito longo e mentiros “Estamos Realizando”. Escondemos a vontade de rir porque, para nós, era o mesmo que dizer: Não estamos vendendo coisa alguma. Agora ao redigir esse “Estamos Realizando”, me vem saudosa lembrança de meu irmão que sempre estávamos juntos nas pescarias na represa de Nova Ponte.
Acomodados numa canoa, passávamos o dia pescando. Mesmo não sentindo nenhum puxão, ficávamos ali com aquela paciência necessária, conversando “Potocas” sem um olhar para o outro para não tirar da ponta da vara, os olhos esperançosos. A nossa conversa de quando em vez, parava. Quando assim, nos vinha uma monotonia de causar sono. Como sempre estávamos pescando por lá, por sugestão daquele irmão, construímos uma casa flutuante para o nosso conforto.
Era ela, a nossa AZUL e BRANCO que ainda vou lhe falar dessa inesquecível casa pintada naquelas duas cores. Na canoa, eu sempre ficava atrás, perto do motor. Meu irmão se acomodava lá na frente no bico da canoa, sempre de costas para mim. Pescaria parada, insípida, horrorosa, difícil de suportar, sem qualquer puxão que animasse a continuar. Até parecia invejar o paradeiro das vendas no comércio. Mesmo sabendo que meu irmão não estava pegando nada porque eu também não, galhofando naquela prosa boba de pescador sem mais o que falar, lhe perguntei como estavam às coisas por lá? Espirituosamente como que escondendo a verdade daquela pescaria como aquele corretor escondia a verdade do paradeiro das vendas, me respondeu igualmente com um “É” também muito long — “Estamos Realizando”. Rimos a valer. Como não haveria de rir?