Estimado professor, se você, por curiosidade, fizer uma pesquisa sobre a quantidade de videoaulas disponível no www.youtube.com.br, o mais famoso site de hospedagem de vídeos da internet, você encontrará 32.200 aulas de Língua Portuguesa, 5.700 de Geografia, 5.120 de Matemática, 5.020 de Física, 5.000 de História, 4.930 de Química, 4.560 de Biologia, 2.380 de Literatura, 2.080 de Filosofia e 924 de Sociologia. Ao todo são 66.990 aulas, que cobrem os mais diversos assuntos dessas disciplinas.
Sabe-se que, diante de tantas possibilidades, há aquelas em cujo conteúdo não se pode confiar plenamente. Não são vídeos postados, necessariamente, por professores e, portanto, podem conter erros conceituais. Mas há, com certeza, muito conteúdo sério e que pode contribuir, de maneira muito prazerosa, diga-se, para a construção do saber.
São 30 milhões de brasileiros que acessam a internet de suas casas (isso sem falar das mais de 90 mil lan houses espalhadas pelo país). Desses, mais de 80% já fizeram ao menos uma pesquisa escolar em algum momento da vida (dados do site olhardigital.uol.com.br, acessado no último dia 9). Conclusão mais que óbvia: as pessoas descobriram na internet uma poderosa ferramenta de acesso ao conhecimento. E é isso que faz com que sites como o YouTube mantenham tanto conteúdo no ar.
Diante de tais fatos, fica difícil não perceber que a escola já não é mais o único espaço a que o aluno recorre para decifrar os enigmas do mundo. Dizendo de outro modo, muitas das aulas que nós, professores, ministramos estão disponíveis na rede de computadores para ser acessadas a qualquer momento, de qualquer lugar e sem nenhum custo adicional para o usuário.
Aprofundando ainda mais a discussão, uma pergunta, dentre tantas outras, parece-me fundamental: se as aulas que ministramos estão, de algum modo, disponíveis na rede de computadores, perderemos os nossos alunos para a internet? Desde já advirto que minha intenção não é fazer a oposição desta com aquela postura, e sim discutir uma realidade: ou nós, professores, nas nossas aulas, apresentamos aos nossos alunos um algo a mais ou correremos sério risco de nos tornarmos desinteressantes para eles.
Isso não quer dizer que o conteúdo formal dará lugar a peripécias de toda ordem. Decididamente não é disso que se trata. Esse algo a mais que o professor precisa ter pode vir na forma de bom relacionamento com os alunos, por exemplo. Relacionamento saudável é a porta de entrada para que o professor se torne uma boa referência para seus educandos, servindo-lhes de figura de confiança. Em tempos em que os pais tanto trabalham, um professor que possa, além de ensinar conteúdos, auxiliar no processo de educação de seus filhos não terá por que temer o YouTube.
Aqui se abre um novo debate em que se torna necessário discutir as novas funções que a escola está incorporando. Profissionais da Educação um pouquinho mais atentos já perceberam que, há tempos, uma escola responsável não ministra somente aulas. Voltarei ao tema.
Bom domingo a todos.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mailtmozart.lacerda@uol.com.br