ARTICULISTAS

Ética antiga e ética moderna

Estimado leitor, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos foi o alemão Immanuel Kant, que viveu quase toda sua vida no século XVIII

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 27/06/2010 às 14:44Atualizado em 20/12/2022 às 05:42
Compartilhar

Estimado leitor, um dos mais importantes filósofos de todos os tempos foi o alemão Immanuel Kant, que viveu quase toda sua vida no século XVIII. Dizem seus biógrafos que ele nunca se afastou da sua pequena cidade natal Konisberg, que era a capital da Prússia oriental. Ainda segundo esses mesmos biógrafos, Kant levava uma vida tão metódica que as pessoas acertavam seus relógios ao observarem a sua rotina.

Ele era filho de um simples artesão que trabalhava com couro e fabricava selas para montaria. Sua mãe, de origem alemã, embora não tivesse estudo, foi uma mulher admirada pelo seu caráter e pela sua inteligência natural. Seus pais eram do ramo pietista da Igreja Luterana, uma subdenominação que requeria dos fiéis vida simples e total obediência à lei moral. Acredita-se que, devido a essa formação religiosa, o tema da moralidade sempre chamou a atenção de Kant, vindo a se tornar um dos mais importantes teóricos desse assunto.

Até a sua chegada, a ideia de ética estava vinculada à ideia de eudaimonia, ou seja, a ideia de felicidade dos gregos. Para eles, a ética se praticava com vistas a organizar a vida coletiva, pois os interesses da cidade estavam acima dos interesses individuais. Alcançar esse patamar ético era, pois, alcançar a felicidade.

Entretanto, é preciso salientar que, para os gregos antigos, a felicidade é uma condição concedida por favor divino, e é feliz aquele que desfruta do favor dos daimones, isto é, daqueles poderes divinos que os homens faziam por merecer. Por isso, para alguns teóricos, nem todos os homens estão aptos a alcançar a felicidade, pois ela depende do mérito de cada um.

Kant não pensava assim. Ele cria as formulações da ética tal como a conhecemos hoje, não mais vinculada à ideia de felicidade, e sim atrelada à ideia de dever. Assim, essas concepções estão diametralmente opostas à ética grega, pois, para Kant, ser ético, às vezes, implica em ser infeliz. Pensa-se, agora, numa ética que contraria os nossos desejos, nossas inclinações, nossos instintos. É uma ética que, na sua prática, traz frustrações.

Diante disso, podemos entender o conselho que Kant nos faz: aja segundo uma máxima que você poderia tomar como lei universal. Uma máxima pode ser, por exemplo, um princípio pessoal. O problema, segundo Kant, é saber se esse princípio é uma máxima ética ou não, se possui valor ético ou não. É preciso fazer um teste: se todos puderem seguir esse princípio, que, num primeiro momento, seria só seu, se esse princípio puder ser estendido a todos, ele, portanto, tem valor ético. Se, ao contrário, essa máxima não puder ser universalizada, ela não tem valor ético.

Um pequeno exemplo onde o raciocínio de Kant fica claro é o da mentira. Podemos mentir em benefício da humanidade toda, pergunta o filósofo? Sim, responde ele, mas não devemos fazê-lo. Porque, se estendermos a mentira a todos os homens, não poderemos mais saber o que é real e o que é falso. Então, a mentira não deve ser universalizada e, por isso, não tem valor ético.

Ao deslocar a ética para o campo do dever, afastando-a da busca da felicidade, como apregoavam os gregos, Kant nos mostra que seguir uma lei moral é um imperativo do qual não podemos fugir. Ao tentar fazê-lo, corremos o risco de voltarmos ao tempo da irracionalidade. Bom domingo a todos.

(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mailtmozart.lacerda@uol.com.br

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por