Reclamamos por esperar um minuto, mas não lamentamos por perder irremediavelmente um dia inteiro
Reclamamos por esperar um minuto, mas não lamentamos por perder irremediavelmente um dia inteiro. Tenho observado esses dois extremos no viver diário e um exemplo desse antagonismo está na preferência que devemos dar ao idoso. O Estatuto que o protege é claro no Art. 3º, quando lhe outorga “atendimento preferencial e imediato”. Mesmo assim, encontramos os que são capazes de perder um ou vários dias na vida e “choram” um minuto para o idoso.
Nas filas, presenciamos episódios nos quais o idoso caminha para ser acatado como deve, mas há os que tentam mostrar a longa distância entre o hoje e esse majestoso dia. Senão vejamos: Uma senhora chega à fila de um caixa bancário, olha para os que estão ali há mais tempo, pede licença e toma o primeiro lugar. O rapaz do caixa, no seu papel e educadamente, inicia o atendimento daquela senhora de cabelos grisalhos, com oitenta e alguns janeiros. A limitada destreza da anciã se fez manifestar, embora estivesse acompanhada de uma jovem, que, por certo, deveria ser sua neta. Com o tempo passando, não demorou muito para que um rapaz na fila agisse de forma deselegante e depois pagasse um vexame, ou melhor, um mico.
“Ei, dona, lugar de vovó é em casa; já perdi até o meu futebol!”, disse o moçalhão, em tom jocoso, junto a outras pessoas, que, disfarçadamente, riram. Todos ali não sabiam, mas a “vovó” por ele referida tratava-se de pessoa extremamente ativa e com excelente audição. Terminado o seu atendimento no caixa, Dona Sinhá, professora aposentada, dirigiu-se ao gozador, sem que ele esperasse, apresentando-se apenas como uma idosa. Bem-humorada e falando como se fosse a um dos seus netos, ela mostrou ao jovem que ele, sim, estava em fila errada, pois logo acima da sua cabeça constava uma placa indicativa de caixa exclusivo aos idosos. Eis o mico pago pelo moço, seguido de um silêncio contagiante...
Aproximei-me discretamente e ouvi o final da afetiva preleção daquela mestra:
- A propósito, você e vocês da fila sabem qual é a diferença entre o idoso e o velho? – indagou ela, sem obter a resposta de nenhum deles.
- Então vou dizer: Idoso é o ser que acumula os anos, sem deixar morrer o jovem que leva dentro. Já o velho...
- E saibam; eu sou idosa...
(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro