Ninguém pode ser considerado como uma ilha, porque não faz bem para uma vida saudável. Cada uma das pessoas humanas é capacitada para construir relacionamentos, para bem conviver e, também, a formar comunidade fraterna, com marcas de unidade. O diálogo é uma peça fundamental neste contexto, porque ele ajuda a criar calor humano e vida comunitária.
Existe hoje o desafio do isolamento, da criação de um mundo virtual totalmente desconectado com os compromissos de fraternidade. A tecnologia da “comunicação” pode provocar uma realidade intimista, levando o indivíduo a olhar apenas para si mesmo e não conseguir enxergar as pessoas que estão ao seu redor. É fatal o isolamento e a perda do sentido da vida.
Para a pessoa poder sair do isolamento, de uma vida desgastada com a mesmice, ela tem que fazer algumas rupturas, como, por exemplo, com o comodismo, com a zona de conforto, com coisas que impedem o seu crescimento. Não é fácil passar por um processo de desacomodação, mas muito necessário para a construção de caminhos verdadeiramente novos.
É difícil caminhar totalmente sozinhos. Todas as pessoas dependem de apoio umas das outras durante a peregrinação, mas sempre com a esperança ao lançar-se para o desconhecido e novo, que pode ser cheio de riscos e desafios. Nisso está muito presente a possibilidade de encontrar realidades novas e, também, diferentes horizontes como caminho para construir o bem.
Numa dimensão espiritual podemos dizer que Deus nos ensina a construir um projeto social coletivo, um espaço onde todos devem ser responsáveis pelo que fazem. Isso não acontece quando cada um se fecha no seu próprio mundo, no isolamento e na adoração de seu próprio eu. O egoísmo mata a vida e impede a bonita prática da partilha e da responsabilidade comunitária.
A Quaresma quer tirar as pessoas de um possível e real isolamento. É tempo de conversão, de mudança de vida através das atitudes concretas. Superar o barulho, interno e externo, da vida para saber ouvir a voz de Deus que ressoa nos corações trancados. Os frutos da Quaresma para o cristão vão depender muito de sua saída do egoísmo e da alienação.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba