A Arte, enquanto linguagem, é também técnica que procura criar, reconstruir ou remodelar aquilo que a natureza não conseguiu fazer perfeito.
Os recursos digitais cobrem as imperfeições do corpo, tornando-o belo, na contemporaneidade.
As fotos que circulam nas redes sociais são colocadas em seu melhor ângulo.
A maquiagem produz uma imagem perfeita daquilo que se coloca em uma campanha publicitária, nos dias de hoje.
O homem atual, no intuito de modelar seu corpo, rende-se aos dispositivos farmacológicos pelos quais torneia seus músculos.
No passado, como se sabe, alguns senhores ricos pediam ao artista que seus traços fossem suavizados ao ser pintados em óleo sobre tela.
Para quê? Para que sua imagem se tornasse bela, ou seja, o desejo de ser belo sempre existiu.
O que pensar sobre isso?
Lembram-se de Narciso?
A busca pela beleza imaginada sempre foi uma constante no desejo humano.
Ao pensar no belo, pode-se dizer que muitas coisas são belas, não tendo uma imagem tão bela assim. O que as torna belas são os sentidos, a experiência sensorial do prazer de quem as contempla. É belo aquilo que provoca prazer. No entanto, o feio se anula quando a beleza ultrapassa a imagem do feio.
O belo é essência, o feio, imagem.
O Ser perfeito, o Deus bíblico, na narrativa teológica cristã, é o próprio verbo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. A beleza de ser verbo está no princípio de resplandecer a forma do tempo. O verbo é a palavra que existe no passado, no presente e no futuro. O verbo transcende qualquer outra palavra que se localiza em uma linearidade temporal. A feiura, por sua vez, habita o aprisionamento, a fraqueza sem explicação, a maldade, a desarmonia e o grotesco. No entanto, o belo pode transcender de um objeto grotesco. Mesmo porque a feiura só existe quando o discurso a indica. Por meio do pensamento exposto, é possível entender que a beleza existe por si só. Entretanto, a feiura é uma criação cultural, uma produção técnica que se aplica para banalizar a beleza e fazer dela um conceito para a manipulação dos homens. A beleza seria uma espécie de potencialidade das formas da natureza. A feiura, um desastre, uma aberração, um erro ocorrido, uma espécie de degeneração das formas que deveriam ser belas.
E a Arte? Como é o belo artisticamente? O belo é inovador?
A Arte Moderna, iniciada no século XX, é revolucionária e inovadora, cabendo a ela a função de provocar uma mudança substancial na linguagem artística. Neste prisma, a Arte Moderna deveria transcender as formas diferentes que a constituíam, para ser apreciada de modo essencialmente belo. O próprio artista que antecede sua Arte torna-se belo à medida que, liberto de uma técnica fundamentalmente parisiense e clássica, por meio de seu objeto artístico já criado, transforma o modo de pensar o mundo com essa Arte.
O belo é provocador?
(*) Psicóloga clínica