ARTICULISTAS

Falando de beleza e feiúra III

Estamos em um período de transformações econômicas

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 19/09/2013 às 21:21Atualizado em 19/12/2022 às 11:00
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Estamos em um período de transformações econômicas e estéticas no qual o homem começa a organizar seu corpo e sua mente, onde parece haver uma condição que submete o olhar para uma padronização estética. É possível dizer que a identidade do “normal” nasce no século XIX e se fixa no século XX, onde ser normal é permanecer e se fazer adequar a uma exigência arbitrária e imposta à existência, é estar encaixado em determinado modelo. Assim, entende-se que o normal é preferível, o normal é bom, o normal é belo. Essa prática de normalização que se aplica, no início do século XX, também à Arte, no momento em que ela é avaliada por cientistas alemães, é clássica. Beleza é harmonia e perfeição. Por meio desse valor, o Estado Alemão, conduzido por uma ideologia nazista, procurou aplicar a harmonia e a perfeição, ou corrigir a desarmonia e as imperfeições da Arquitetura, das Artes Plásticas, da Música e dos corpos. Para a ciência alemã, a arquitetura deveria ser geometricamente perfeita, as Artes Plásticas deveriam ser harmoniosas, e os corpos deveriam ser normais. A Arte era para Hitler, um espelho daquilo que o homem poderia vir a ser.

E, atualmente, a arte é reflexiva? O belo é reflexivo? O belo é relativo?

Juntamente com o modo de existência das comunidades humanas, modifica-se também o modo de sentir e perceber. A forma orgânica que a sensibilidade humana assume e o meio no qual ela se realiza não dependem apenas da natureza, mas também da sua história.

Há um biopoder que atua e modifica os sentidos e o perceber de quem deixa de analisar para consumir uma ideia pré-moldada do que se pode considerar belo ou feio.

O belo é curioso? Existe uma interpretação da Arte para atingir o comportamento humano e seu modo de pensar a sociedade?

E o feio? O feio é o que causa tensão? A feiúra está relacionada ao medo?

Uns são mais belos que outros? Beleza é vida? Feiúra é morte e subjugação? Ser belo era ter direito à vida, anteriormente.

No entanto, ainda existem vidas na contemporaneidade, que são marcadas pelo padrão estético do belo e do feio que se aplicou no período da Segunda Guerra Mundial.  Seres existem que são marcados por uma estética da beleza que existe no plano das ideias. As belas modelos são maquiagem de imagem, os belos corpos são construções estéticas, muitas vezes artificiais, por meio de dispositivos farmacológicos, não é?

Viver entre o belo e o feio, ser belo ou feio, ou se anular em nome do belo e do feio pode ser um indício de que a rejeição àquilo que um dia causou guerra, ainda vive entre nós. O padrão de beleza que nos habita traz consigo um restolho daquilo que um dia o nazismo pensou como belo ou degenerado. Há de se pensar o que somos, de fato, como somos, e em que queremos nos transformar. Na contemporaneidade, ainda se cultua e se busca uma beleza para a existência, mesmo que essa beleza anule alguma forma de sensibilidade. O belo, que somente na imagem, nos convida à sua busca, pode ser o que nos motiva a avaliar o outro como estranho, como grotesco, como feio. No entanto, esse valor que nos reflete como belos e transforma o outro em feio, pode ser um resíduo da ideologia nazista, que ainda que se negue, ainda nos habita. Vamos pensar sobre isto?

(*) Psicóloga clínica

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