ARTICULISTAS

Falando de violência - III

Sabendo que a violência é congênita ao ser humano, como compreendê-la para além da razão

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 11/08/2011 às 21:22Atualizado em 19/12/2022 às 22:53
Compartilhar

Sabendo que a violência é congênita ao ser humano, como compreendê-la para além da razão?

Como entender a violência sem relacioná-la com a animalidade?

Tomar a animalidade como raiz da violência é, sobretudo, esquecer-se de que no reino animal não encontramos o que chamamos de violência, encontramos, sim, a agressividade.

A violência é humana.

O homem não é violento por ser a mistura da animalidade e da racionalidade. Estas características não dão conta da condição humana, pois sempre foram pensadas como prioridades presentes no homem. Se o homem é marcado por uma negatividade estrutural, razão e animalidade não se aplicam à sua estrutura vital. O homem é violento tão somente por ser humano.

Ser violento é uma possibilidade de ser sempre presente em um ente que pode não assumir o caráter simultaneamente singular, relacional e transitório da existência. A violência é um mecanismo necessário para um tipo existencial que não suporta ter de conquistar sua singularidade pela assunção de suas múltiplas relações com as alteridades. Assim entendemos quando é dito que não se pode arrancar do homem a possibilidade da violência.

 Se não podemos arrancar a violência da condição humana, podemos resistir aos seus mecanismos e criar estratégias de contraviolência, desenvolvendo práticas, políticas e pensamentos de liberação de alteridades reificadas.

A contraviolência é um exercício de liberação de alteridades reificadas, ou seja coisificadas.

A contraviolência é este exercício de liberação das alteridades que pressupõe a criatividade contínua que gera rupturas com os mecanismos de legitimação da violência. Por isso, as lutas contra a homofobia, a pedofilia, a xenofobia têm sentido. Tem sentido também propor alternativas para o sistema econômico, que coisifica relações, descarta pessoas e suprime singularidades. Da mesma forma, é necessário lutar contra a pobreza, contra racismos, contra a misoginia - desprezo ou aversão às mulheres - outro ato de violência.

A contraviolência não significa que a violência irá acabar, mas, sim, que ela pode não se tornar normativa. Se a violência não será anulada, ao menos sofrerá resistência, assim como será repelido o caráter covarde e impotente de todo aquele que faz da violência um recurso para perpetuar seu tipo vital degenerado. Frente à violência não se pode contar com uma fórmula mágica, mas deve-se criar múltiplas estratégias de resistência à sempre presente possibilidade de multiplicação de mecanismos de reificação da existência do seu pressuposto existencial impotente.

Você é resistente à própria violência?

(*) Psicóloga clínica

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por