Eram três horas e poucos minutos da madrugada e naquele momento meus ouvidos estavam ocupados pelos fones de um rádio sintonizado na coirmã Rádio Globo, do Rio de Janeiro. O radialista era Jorge Luiz e, ao vivo, atendia uma ouvinte, que lhe suplicava ajuda para fazer um tratamento de saúde. Ela é portadora de osteomielite (infecção nos ossos) e, segundo a paciente, naquela capital, pasmem, só há um hospital público capaz de lhe proporcionar o tratamento gratuito. No Hospital Naval Almirante Marcílio Dias existe a aparelhagem para tal, entretanto, por ela não ter nenhum vínculo com a Marinha Brasileira, estava descartado o seu tratamento ali.
Disse aquela senhora: - “Jorge Luiz, estou doente, sinto muita dor, sou doméstica, não tenho dinheiro para fazer o tratamento particular, preciso criar meus filhos e não posso morrer”. “E quanto custa o seu tratamento?”, perguntou o radialista. A ouvinte, em prantos, respondeu-lhe: - “Terei que dispensar sessenta mil reais e não tenho a menor chance para isto”. E Jorge Luiz lhe orientou a dizer o número do seu telefone no ar, além de afirmar que alguém iria entender o seu drama. Isso foi o bastante para que o telefone da rádio ficasse congestionado.
Em poucos minutos, mais da metade do dinheiro foi arrecadado e a ouvinte, se quisesse, poderia iniciar o seu tratamento naquele mesmo dia. O radialista, emocionado, durante o programa Bom dia Globo, agradecia aos corações generosos espalhados pelo Rio de Janeiro e por todo o Brasil. Eu mesmo tentei falar com ele, mas foi impossível. E continuo tentando.
Refleti muito sobre a importância do rádio, principalmente nos momentos em que o socorro deve chegar em tempo real. Desde o brasileiro Roberto Landell de Moura (1894), passando por Guglielmo Marconi (1896) e Roquete Pinto, que no ano de 1923 fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro – a primeira no Brasil –, o rádio nunca perdeu a sua supremacia. Através dele pode-se realmente fazer o bem, mesmo não vendo a quem.
O rádio é o meio de comunicação através do qual podemos proporcionar ao ouvinte a ativação das suas potencialidades mentais, com destaque para as faculdades de sentir e imaginar. Com o uso proeminente dessas duas unidades da mente, todo radialista pode ter a certeza de que estará fazendo o bem pelo bem mesmo. Eis aí a essência da caridade. Aqui, os nossos parabéns aos radialistas e demais integrantes da Rádio JM.
(*) PRESIDENTE DO FÓRUM PERMANENTE DOS ARTICULISTAS DE UBERABA E REGIÃO, MEMBRO DA ACADEMIA DE LETRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO