ARTICULISTAS

Filhos assassinados

Nossa existência comporta experiências inusitadas que, mesmo parecendo distantes...

Vera Lúcia Dias
veludi@terra.com.br
Publicado em 16/10/2015 às 19:49Atualizado em 16/12/2022 às 21:47
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Nossa existência comporta experiências inusitadas que, mesmo parecendo distantes do nosso estilo de vida, chegam por caminhos transversos.

Dias atrás publiquei um artigo com o título “Criança é esperança”, relatando os saldos da história vivida por mim como presidente de uma ONG e onde vivi uma maternidade social e legal de crianças e adolescentes encaminhados pela Vara da Infância e da Adolescência de Uberaba.

Hoje, infelizmente, o foco não é o sucesso dos que estão se dando bem, mas sim a notícia de que um deles foi assassinado e que, ao buscar informações a respeito, fui informada pela empresa funerária de plantão naquele dia com as seguintes palavras:

 “– Nós pegamos ele ao meio-dia e meia e enterramos as duas horas da tarde”.

R. foi morto aos 32 anos, como morador de rua e enterrado como indigente e isso significa que não houve tempo para velório...

Recordei-me de sua chegada à nossa Casa Lar, em 1995, juntamente com sua irmã gêmea. Ambos, como nossos “filhos mais velhos”, tiveram direito a festa quando completaram 15 anos e ficaram conosco até os 18 anos. Iniciaram sua vida profissional via PROBEM e, na maioridade, R. foi empregado no Posto de Gasolina de um casal benfeitor, a quem agradeço de público pelo emprego, pelo aluguel de barraco próximo ao seu domicílio e pelo café da manhã levado à sua porta diariamente.

R. foi alvo de nossa preocupação e atenção até manifestar o desejo se ver livre de nós porque já estava “de maior”... E é isso o que nos deixa com a consciência tranquila de que não fomos omissos em momento algum!

Com a morte desse jovem experimentei os sentimentos das mães que veem o sangue de seus filhos derramados no asfalto e estampadas em fotos.

Não pude deixar de me recordar ainda da velha discussão sobre quem fala mais alt A hereditariedade ou o meio? O que teria trazido R. em seus genes? Em que meio viveu até ir parar em uma instituição? E depois que dela saiu, com quem seu caminho cruzou para chegar ao ponto que chegou? Por que tudo aquilo que tentamos lhe ensinar de Bom e de Bem não surtiu efeito? Por que não soube aproveitar as oportunidades recebidas?

O que nos resta fazer, além de rezar para que ele tenha a chance de evoluir espiritualmente até alcançar a paz, que parece não ter experimentado aqui na vida terrena?

Que R. encontre a luz!

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