Nossa existência comporta experiências inusitadas que, mesmo parecendo distantes...
Nossa existência comporta experiências inusitadas que, mesmo parecendo distantes do nosso estilo de vida, chegam por caminhos transversos.
Dias atrás publiquei um artigo com o título “Criança é esperança”, relatando os saldos da história vivida por mim como presidente de uma ONG e onde vivi uma maternidade social e legal de crianças e adolescentes encaminhados pela Vara da Infância e da Adolescência de Uberaba.
Hoje, infelizmente, o foco não é o sucesso dos que estão se dando bem, mas sim a notícia de que um deles foi assassinado e que, ao buscar informações a respeito, fui informada pela empresa funerária de plantão naquele dia com as seguintes palavras:
“– Nós pegamos ele ao meio-dia e meia e enterramos as duas horas da tarde”.
R. foi morto aos 32 anos, como morador de rua e enterrado como indigente e isso significa que não houve tempo para velório...
Recordei-me de sua chegada à nossa Casa Lar, em 1995, juntamente com sua irmã gêmea. Ambos, como nossos “filhos mais velhos”, tiveram direito a festa quando completaram 15 anos e ficaram conosco até os 18 anos. Iniciaram sua vida profissional via PROBEM e, na maioridade, R. foi empregado no Posto de Gasolina de um casal benfeitor, a quem agradeço de público pelo emprego, pelo aluguel de barraco próximo ao seu domicílio e pelo café da manhã levado à sua porta diariamente.
R. foi alvo de nossa preocupação e atenção até manifestar o desejo se ver livre de nós porque já estava “de maior”... E é isso o que nos deixa com a consciência tranquila de que não fomos omissos em momento algum!
Com a morte desse jovem experimentei os sentimentos das mães que veem o sangue de seus filhos derramados no asfalto e estampadas em fotos.
Não pude deixar de me recordar ainda da velha discussão sobre quem fala mais alt A hereditariedade ou o meio? O que teria trazido R. em seus genes? Em que meio viveu até ir parar em uma instituição? E depois que dela saiu, com quem seu caminho cruzou para chegar ao ponto que chegou? Por que tudo aquilo que tentamos lhe ensinar de Bom e de Bem não surtiu efeito? Por que não soube aproveitar as oportunidades recebidas?
O que nos resta fazer, além de rezar para que ele tenha a chance de evoluir espiritualmente até alcançar a paz, que parece não ter experimentado aqui na vida terrena?
Que R. encontre a luz!