Um velho sovina e rico, que lembra o Tio Patinhas, na noite de Natal recebe a visita de três fantasmas. Entretanto essa não é exatamente uma história de fantasmas e, sim, de Natal, já que é o próprio Natal-fantasma que se apresenta em três versões, do passado, presente e futuro. O velho tem uma oportunidade única de refletir sobre sua existência, recapturar sentido em sua vida e alcançar a redenção.
Desde a publicação d’Um Conto (ou Cântico) de Natal, de Charles Dickens, esse tem sido o modelo de história de Natal. Até os dias de hoje, a cada ano, vários filmes são adicionados à já longa lista da temporada e, se quisermos, podemos passar o mês todo embebendo-nos em natalidade. Há subcategorias, desde a mais amena, a comédia romântica, até a mais radical, os filmes de ação. Apaixonados argumentam, inutilmente, pró e contra, se Duro de Matar é um filme de Natal. O personagem principal percorre uma jornada de redenção, e a história se passa durante uma festividade natalícia. É um argumento algo demasiado amplo e, se passar, igualmente pode-se contestar que Máquina Mortífera, com a mesma jornada, é muito melhor. Estão abertas as hostilidades.
Contudo há histórias de Natal clássicas e, de todas, das mais belas, se não a mais bela, ainda é de um filme de 1946, A Felicidade Não Se Compra. Dirigido magistralmente por Frank Capra, que vinha de fazer documentários na Segunda Guerra Mundial, e brilhantemente protagonizado por James Stewart, retomando sua carreira após servir seu País na frente de batalha. Rodado em preto e branco, com recursos limitados, em comparação com os atuais, e com um tema, em teoria, de nicho, é uma obra-prima do cinema, perfeição na arte de contar histórias. Um homem comum, que escolhe a via mais difícil do sacrifício e abnegação e, ainda assim, vê a injustiça cair sobre sua vida. Busca não a felicidade, mas, sim, significado para a sua existência e isso é o que, ao fim, leva ao maior tesouro de todos. Nada a ver com o onipresente e superficial “siga seu sonho” de hoje em dia, de conveniente resolução e fácil esquecimento.
Atualmente, esse tipo de filme tem outra classificação própria, é o feel-good movie, o filme feito para você sair do cinema se sentindo de bem com a vida. Até um terço do final, é difícil acreditar que será o caso, porém, para quem se arriscar a ser fisgado por essa obra universal, a recompensa é plena.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica. AnaMariaLSVilanova@gmail.com