ARTICULISTAS

Fim de gestão ou fim de feira?

Encontrei-me dia destes com o amigo Zito Sabino

Vera Lúcia Dias
veludi@terra.com.br
Publicado em 30/12/2012 às 13:49Atualizado em 19/12/2022 às 15:33
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Encontrei-me dia destes com o amigo Zito Sabino, a quem admiro e muito respeito, e o mesmo registrou estar sentindo falta de meus artigos no Jornal da Manhã. Respondi-lhe que escrever sem periodicidade estabelecida, deixa-me livre para curtir períodos sabáticos, mas fui para casa refletindo no porque a falta de motivação para escrever com regularidade.

A resposta encontrada justifica-se do panorama local ao cenário mundial. Meu “silêncio” iniciou-se no período que antecedeu às eleições municipais, cujo baixo nível superou a tudo que já vi.

Pasmem com o fato de eu ter recebido comprovante de remessa de correspondência de certo sonhador com o cargo de prefeito enviado para seu partido em Belo Horizonte e que, sem coragem de colocar seu próprio endereço, utilizou o do meu domicílio!...

Se interesses partidários eu tivesse, teria sido um prato cheio divulgar um documento com nome e sobrenome de “candidatável” com meu endereço. Preferi destruir a “prova do crime” sob pena de passar por mentirosa, caso revelasse o fato, com a certeza de que quem mexe com porcos acaba ficando enlameada... Isso sem contar que o autor da façanha não conseguiu sair das especulações.

Cansaram-me em nível local, nesse período, tantas ações impetradas por uns candidatos contra os outros, as notícias de explosões dos caixas eletrônicos, os assaltos, os roubos de veículos.

Preocupa-me o destino de nossa cidade quando tomo conhecimento da ponta o iceberg já revelado sobre as dívidas deixadas para a próxima gestão municipal sob o codinome de “ousadia e coragem”.

Alguém pode se perguntar o que eu tenho diretamente a ver com isso. Respondo que, além de munícipe, “o uso do cachimbo deixa a boca torta” e se assim é, como passei três quartos da minha vida como servidora municipal, não consigo analisar os fatos com a mesma lente de quem nunca viveu as entranhas de uma Prefeitura. Mesmo não estando mais na ativa, conheço as dificuldades e impossibilidades de se fazer boas gestões sem recursos financeiros.

Tenho tentado prestar mais atenção na exuberância das acácias, ipês e primaveras, mas as notícias locais incomodam-me a ponto de provocar luta interna entre falar o que sinto ou represar o grito na garganta.

Exemplo? O lenga-lenga da inauguração do Hospital Regional. Leio na edição de 29 de dezembro do JM que será inaugurado no dia 30 “o Bloco B com 42 leitos, mobiliados e com equipamentos, mas ainda ficarão em obras o Bloco A que abrigará o centro cirúrgico, emergência, sala de radiografia e diretoria..., o bloco C com a UTI, área administrativa e anfiteatro para 100 pessoas; o Bloco D, com serviços de lavanderia, cozinha, depósito e almoxarifado, refeitório, sala de motoristas e alojamentos...”

A inauguração de um hospital inacabado no apagar das luzes de uma gestão, representa o último tiro disparado pela mão que está perdendo sua força e seu poder – e não me atrevo a adjetivar o gesto - mas os respingos da pólvora ficarão nas mãos de quem assumir o município no dia seguinte.

Enquanto militante da Saúde Pública e ex-responsável por serviços relevantes, sei o quanto é difícil justificar posteriormente em auditorias do Ministério da Saúde erros autorizados no seu nascedouro de um serviço.

O que poderia ser a solução para a falta de leitos em Uberaba, poderá se transformar num problema, numa herança maldita, mas um tiro a mais, um tiro a menos, que diferença faz, não é mesmo?

Só penso que eles não deveriam ser disparados em direção a serviços de saúde, principalmente aos ligados à urgência e emergência onde a vida está por um fio e se a competência técnica das equipes, os equipamentos ou demais condições não estiverem a contento, a morte com certeza vencerá sua luta contra a vida.

Reflito também se a população tem compreensão do que está sendo feito e se não cobrará no dia primeiro de janeiro o funcionamento normal do HR.

Aqui do meu canto fico torcendo para que Deus ilumine e dê muita força, paciência e sabedoria ao novo prefeito para que ele e sua equipe encontrem com rapidez e acerto os fios das meadas emaranhadas nos novelos e novelas dos últimos 8 anos.

(*) Mestre em Psicologia Clínica; especialista em Saúde Pública; presidente do Instituto Renovare-Cemae (Centro de Estudos Sobre a Morte e Apoio a Enlutados); ex-coordenadora do Samu e do Programa Municipal de DST/AIDS; terapeuta das Perdas e Luto

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