Há alguns anos, a convite de vigários de duas paróquias, integrei uma equipe que tinha por objetivo a preparação de noivos, para a surpreendente caminhada no relacionamento a dois.
Há alguns anos, a convite de vigários de duas paróquias, integrei uma equipe que tinha por objetivo a preparação de noivos, para a surpreendente caminhada no relacionamento a dois. Foram momentos aprazíveis aqueles em que proferia palestras sobre Finanças no Casamento, um assunto bastante delicado na vida de um casal.
Em algumas ocasiões, o curso contou com mais de vinte casais de noivos. A motivação das palestras consistia em uma conversa descontraída a partir da pergunta: “Quais as duas principais causas de preocupação em um casamento?” Claro que, cientes do tema da palestra, o dinheiro era citado por todos como uma dessas preocupações.
Os palpites quanto à segunda causa eram variados, porém os noivos raramente acertavam a resposta da brincadeira. Diante da variedade de conjecturas, apresentávamos a soluçã a sogra. Os participantes achavam graça. E alguns aproveitavam para fazer média com o parceiro ou parceira, elogiando a futura sogra. Explicávamos que a sogra provavelmente seria um problema, até virar avó. Então, haveria uma grande possibilidade de ela deixar de ser problema.
O dinheiro, entretanto, seria invariavelmente um problemão a ser encarado com atenção e firmeza por todo o tempo do casamento. Mesmo porque o dinheiro ou a falta dele poderia influenciar no fim do casamento. Afinal, a Amélia, que achava bonito não ter o que comer, só existe na música.
Outra perguntinha de cunho didático dizia respeito ao salário dos noivos. “Vocês, noivos e noivas, sabem quanto o seu parceiro recebe de ordenado?” Raramente alguém sabia. O motivo dessa pergunta vinha logo em seguida, com uma advertência: O casal deve viabilizar o controle de suas finanças, tendo em mente um orçamento, tendo em mente um plano de divisão de despesas, a partir do que cada cônjuge recebe por mês. E então era mostrada a necessidade de o casal fazer esse orçamento doméstico, isto é, colocar no papel o que ambos têm de receita por mês e também a previsão dos gastos. E ainda a necessidade de, sempre que isto for conveniente, guardar ou aplicar parte do que ambos recebem, evitando gastos supérfluos e gastos acima da receita do casal.
O tema desse curso ainda é válido, e hoje não é raro o casal contar com um reforço monetário significativ o salário da mulher. Naquela época eram poucas as mulheres trabalhando fora do lar.
Essa preocupação com os gastos domésticos prevalece em todos os tempos. Com frequência assistimos na mídia a boas sugestões de conselheiros e economistas para que as famílias saiam do sufoco de prestações exageradas assumidas, gastos com cheques especiais, juros exorbitantes, ou investimentos desastrosos, que colocaram o casal e toda a família em dificuldades financeiras.
O ideal é que todos, desde a infância, aprendam a fazer o controle das próprias finanças. Projetos fascinantes têm sido trabalhados por professores nas escolas, ajudando nesse sentido. Pais podem educar seus filhos ensinando-lhes, por exemplo, como administrar a mesada, que deve considerar, dentre outros aspectos, a faixa etária da criança e a receita da família.
E essas minhas lembranças foram despertadas em razão do momento atual, em que vivemos uma verdadeira crise. Pode acontecer de o jovem esposo chegar a casa e dizer à jovem esposa: “Fui despedido!” Momentos como esse exigem que o casal tenha se preparado, guardando tudo o que for possível a cada mês. E eu encerrava a palestra convidando os cônjuges a dialogarem e se manterem bem informados, por exemplo, a respeito do aumento do salário de ambos, para que o casal possa viver uma relativa tranquilidade no lar.
Em dezembro foram despedidos seiscentos e cinquenta mil trabalhadores no Brasil. Se o desempregado frequentou algum curso voltado para o tema em questão, ou se se informou através da mídia, pode ter tido nesses fatos um aliado para enfrentar esse problema do desemprego, uma das razões de muitos casamentos desfeitos. Afinal, é sabido que “o dinheiro não aceita desaforo de ninguém”.
De vez em quando algum cidadão me aborda, casualmente, afirmando que assistiu a alguma de minhas palestras sobre finanças no casamento e que se valeu de muitas sugestões para se livrar de armadilhas ligadas ao consumismo ou mau uso do dinheiro. Essa é a melhor remuneração que eu poderia ter tido por esse meu serviço prestado voluntariamente aos casais de noivos.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro