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Fliperamas

Estimado leitor, desde já previno: esse é um artigo para aqueles que estão na casa dos quarenta anos

Mozart Lacerda Filho
Publicado em 18/07/2010 às 12:31Atualizado em 20/12/2022 às 05:22
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Estimado leitor, desde já previn esse é um artigo para aqueles que estão na casa dos quarenta anos. Infelizmente, os mais novos não vão lembrar, mas caminhando pela Avenida Alberto Martins Fontoura Borges no sentido contrário da Fábrica de Tecido, quase na esquina com a Rua São Benedito, funcionou, por algum tempo, um fliperama.

O fliperama era o lugar onde jogávamos nas máquinas de fliper, que, acionados  por dois botões externos, lançavam uma esfera de metal em algum lugar da máquina. Conforme o percurso que o jogador fazia, durante as cinco oportunidades de que dispunha, ou ele acumulava um número de pontos que podiam dar um replay, ou ganhava uma bola extra, ou conseguia acender o especial, a missão mais difícil de realizar nessas máquinas.

Pois bem, saía de casa para ir à escola e, no meio do caminho, dava uma passadinha no fliperama. Havia uma máquina, que estava fora do nível e, por isso, apresentava uma leve descaída para a esquerda, o que facilitava passar a bola por um túnel e acumular muitos pontos. Para cada ficha comprada, jogávamos umas três vezes. A notícia se espalhou e a turma que frequentava o local fez a festa. Um dia, claro, o dono percebeu e consertou o defeito.

Estava em casa certa tarde quando um amigo me disse que numa das lojas do térreo da Galeria Rio Negro teriam aberto um novo fliperama. Como morava no Universitário, bairro distante do centro, precisei esperar por algum motivo para conhecer a nova casa.

Mas digo-lhes o seguinte: quando vi todas aquelas máquinas funcionando ao mesmo tempo, todas aquelas luzes, quando ouvi todos aqueles sons e percebi o imenso movimento de tanta gente jogando ao mesmo tempo, confesso que meu batimento cardíaco alterou-se. O fliperama da Rio Negro, como chamávamos, era muito bem equipado. A Taito, uma das mais importantes fabricantes de máquinas de fliper (desculpem-me, mas me recuso a chamá-las de pinball), comparecia com as suas mais importantes criações: Vortex, Saloon, Meteor, Shark, Volcano, dentre outras. E o melhor de tud entre uma partida e outra, tomávamos um copo duplo de vitamina, caprichosamente feito pelo Sr. Mário. Bons tempos, bons tempos...

Na Praça Rui Barbosa, onde hoje funciona uma loja da rede Magazine Luiza, também teve um fliperama muito bem equipado, com máquinas muito bem conservadas, inclusive. O problema é que lá era frequentado por jogadores muito bons, e, por isso, o clima de disputa era muito acirrado. Constantemente a barra pesava.

O Edifício Chapadão, exatamente onde hoje funciona a Tube Boutique, abrigou, também, um fliperama.  E nesse caso há um pormenor a ser destacado. Até o ano de 1982, as máquinas que dispúnhamos no Brasil possuíam um único plano, jogado com uma única bola.

Mas isso mudou com a chegada da máquina Cavaleiro Negro, ícone máximo dos amantes dos fliperamas daqueles tempos. Em vez de apenas um nível, ela possuía dois; em vez de jogar com apenas uma bola, em alguns momentos ela colocava até três bolas em jogo, e, o seu desafio maior, era que ela possuía quatro flipers, não dois. Formavam-se imensas filas para conhecer essas novidades.

À medida que a rua foi ficando perigosa, os fliperamas foram cedendo lugar para os videogames, para as casas de jogos de shopping e até mesmo para as lan houses. No lugar dos tradicionais flipers, hoje se empunha o mouse e o teclado. E no coração dos amantes das máquinas de fliperama, habita uma imensa saudade.

Bom domingo a todos.

 (*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM mozart.lacerda@uol.com.br

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