ARTICULISTAS

Folia de Reis

Natal, para alguns, é festa cristã que converge à família na troca de presentes

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 17/01/2012 às 19:55Atualizado em 17/12/2022 às 07:50
Compartilhar

Natal, para alguns, é festa cristã que converge à família na troca de presentes, em memória ao nascimento do Cristo. Na sequência, vêm as festividades do ano-novo. Uma festa mundana, voltada aos bons propósitos para o ano que se iniciará. É uma festa endógena. Fazem-se juras de bom comportamento, de abandono das mazelas, desejam-se saúde, paz e muito dinheiro no bolso, embora todas as dívidas e pendências transponham o portal de fim de ano e continuam no dia seguinte ao término do ano. Janeiro deveria ser o exercício das bondades desejadas. No entanto, somos afogados nas chuvas, nas calamidades, fazendo deste mês o mês das catástrofes, das enchentes, dos sofrimentos coletivos, da solidariedade individual, da irresponsabilidade pública e privada, da carestia. Só não é mais sofrimento devido às festividades de Santos Reis, que desopilam a alma e confirmam, para aqueles que têm fé, que caminhar é o exercício da perseverança. Como nos mostram o seu João Miguel e Dona Maria Diomara, da Folia de Reis dos Leiteiros, assim como o seu Ismael e tantos outros, que saem às ruas cantando e louvando o Menino Cristo.

Os componentes de uma Folia de Reis carregam instrumentos musicais, cantam uma melodia melancólica ao som do pandeiro, da viola caipira, do acordeom, marcados por um bumbo de batida seca, sem repiques que nos faz refém da musicalidade desdobrada na cantoria de louvor. E, assim, de porta em porta, levam a oração, a súplica, o agradecimento em dia de reis e rainhas, lembrando a tradicional visitação feita pelos três “Reis Magos”, denominados Belchior, Baltasar e Gaspar, quando do nascimento do Menino Jesus. Os festeiros de Reis são homens e mulheres de fé, creem na interseção divina na vida mundana, lembram-se dos embates que a vida requer e, por permanecerem de pé, louvam aqueles que os nutrem na caminhada.

Festa de Reis, mesmo compondo o calendário folclórico, é uma tradição que se reporta ao século XVI – chegada dos portugueses ao Brasil –, quando os jesuítas utilizavam a dança e a musicalidade como instrumentos de catequese de índios e negros. Esse ritual de fé sobreviveu aos ritos profanos, aos embates sociais, às dores da escravidão, do genocídio e se firmou como ato cultural de fé, preservado na figura do festeiro, que, a partir de sua crença, une os amigos e realiza a festa pela fé. Ao término da visitação da folia, os festeiros oferecem o jantar regado a comidas de sal e de doce de boa qualidade. Aqui entra outra tradição, a culinária da região.

Folia de Reis é exemplo de resistência e, quando o poder público fica distante, melhor é para os festeiros e para a fé, diferenciando-se daquelas outras tradições que vivem mais do dinheiro público do que do empenho de seus participantes. Folia de Reis é doação de seus membros, dos familiares, da promessa vertida aos Santos Reis. Aos que professam a fé nos Santos Reis o nosso respeito e reconhecimento.

(*) Professor

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por