Fora com os brigões!

O último final de semana foi repleto de grandes clássicos. No Campeonato Paulista, Corinthians e São Paulo; no Rio, aquele que vem sendo o grande duelo do Estado há algum tempo, Flamengo e Botafogo, e em Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético. Já na segunda-feira, 16, acordo e corro logo para ler o jornal, querendo me informar sobre os detalhes de cada jogo, os heróis e vilões e me encantar com a narrativa de grandes jogadas. Normalmente, é preciso abrir o jornal e correr os olhos para a página dedicada ao esporte. Mas não nesta segunda-feira.   Logo na capa, uma cena lamentável em que um torcedor era atendido depois de se confrontar com a Polícia Militar paulista, no jogo entre o Timão e o tricolor do Morumbi. Morumbi, aliás, que foi palco de cenas de selvageria, provocadas por diversos fatores, entre eles a falta de preparo da PM e a má intenção de alguns poucos torcedores, mas que infetam todos aqueles dispostos a apenas torcer. Não podemos nos esquecer do “espírito de porco” dos dirigentes, tanto são-paulinos como corintianos. As duas partes passaram toda a semana anterior botando pilha e acirrando ainda mais os ânimos de alguns torcedores. Depois de tanta animosidade, o resultado parecia previsível.   No entanto, tudo isso pode ser explicado, mas é inconcebível e inaceitável. Em São Paulo, pelo menos 31 pessoas ficaram feridas. Já em Belo Horizonte, a tragédia foi maior e mais chocante. Horas antes do clássico, aquele pelo qual esperamos meses e meses, um torcedor foi baleado no ponto de ônibus e morreu. O motivo que levou os outros torcedores a fazer isso é simples: o morto era atleticano e eles, cruzeirenses.   No Rio, apesar de menores, também foram registrados incidentes e confusões antes do clássico. Lá, porém, os resultados foram menos avassaladores. Cansa-me assistir, ler e ouvir sobre a violência nos estádios. Cansa-me mais ainda escutar sempre a mesma ladainha de que, da próxima vez, precauções serão tomadas para evitar tragédias e, no dia dos jogos, nada acontece. Torcedor ser assassinado em um local para onde se vai festejar é um absurdo.   Não sou nenhum onisciente, mas certas coisas qualquer um sabe: lugar de bandido é na cadeia. E gangster que vai ao estádio para arrumar briga é bandido. Dirigente que dá ingressos gratuitos para essa turma de bandidos também é bandido. Todo mundo sabe que dezenas de centenas de ingressos são “doados” às torcidas organizadas e estas, muitas vezes, são responsáveis por grande parte dos incidentes dentro dos estádios. Aliás, troquemos o term torcidas desorganizadas. Seria muito triste se tivéssemos que adotar as ações tomadas na Argentina. Lá, na terra de nossos hermanos, dia de clássico é dia de uma torcida só. Triste, mas a ação diminuiu a violência. Ainda acredito que reeducar os torcedores é a melhor alternativa, ensinando-lhes a torcer, ao invés de guerrear.   Ah, e antes que eu me esqueça, a torcida do Uberaba Sport tem demonstrado, ao pé da letra, o que é ser torcedor. Os colorados já revitalizaram o estádio Boulanger Pucci, já fizeram acontecer assembléias na Câmara Municipal na difícil missão de o clube não perder seu patrimônio e nos jogos vêm demonstrando apoio incondicional ao time, inclusive viajando com a equipe nos duelos fora de casa. Contra o Cruzeiro, amanhã, acredito veementemente em um novo show dos nossos torcedores. E, ao contrário da última semana, espero abrir o jornal e ler apenas sobre chutes na bola. Se eu ler sobre alguma bomba, que se tratem daqueles chutes fantásticos disparados por algum craque. E os gritos de dor e horror serão substituídos por gritos de gol, alegria e paz.