Uma mesa com máquina de escrever (então ferramenta imprescindível, principalmente em um jornal), uma...
Uma mesa com máquina de escrever (então ferramenta imprescindível, principalmente em um jornal), uma escrivaninha, algumas cadeiras... e só. Era tudo o que comportava nossa salinha, na antiga sede do jornal (na época, Correio Católico), ao lado da Catedral.
E em sala tão acanhada era impossível respirarmos quando alguém acendia um cigarro e deixava espalhar a fumaça. Em geral, o fumante sentia-se impelido a alimentar o vício e não notava o incômodo que provocava. E eram raros os que, ao menos, pediam licença para fumar no mesmo recinto em que estávamos.
Para acabar com o problema, cogitamos uma forma de pedir, com diplomacia e eficiência, que não fumassem ali. E idealizamos um cartaz (depois, muito copiado) com os dizeres: “Pode fumar, mas evite... [e, em letras bem pequenas, como se falássemos baixinho] ...soltar fumaça na sala e deixar cinzas no cinzeiro.”
Alguns nem se importavam com o que liam; outros, entretanto, chegavam a pegar o cigarro e conseguiam heroicamente se conter. Às vezes, aproximavam-se do cartaz para ler o final do texto. De alguns ouvíamos comentários espirituosos, com “Você não presta mesmo!” Mas todos nós ficávamos livres da fumaceira.
Fabricantes de cigarro estão requerendo o direito de não mais colocarem, nos maços, as fotografias chocantes que servem de alerta aos fumantes. Porém, o governo quer que sejam estampadas fotos ainda mais agressivas, medida que deve entrar em vigor em 2016.
Somos livres para fazermos nossas escolhas. E temos consciência de que, uma vez com o vício, é preciso determinação para dominar a si próprio. Quem consegue se conter merece o nosso reconhecimento. E quem quer parar, o nosso apoio.
Sentimo-nos impotentes ao nos lembrarmos de parentes e amigos que podem morrer em razão do vício com o tabaco ou que já morreram por isso. E as vítimas com doenças causadas pelo fumo, além de serem marcadas pelo sofrimento pessoal, geram gasto vultoso para a família e o governo, importância que poderia ser aplicada em outros benefícios para a população.
Felizmente, campanhas de conscientização vêm alcançando resultados. E programas especiais ajudam o fumante a deixar o vício. Melhor mesmo é conseguir não colocar o primeiro cigarro na boca. Se isso não foi possível e se houver interesse em deixar o vício, há várias instituições que ajudam nesse sentido. E a ajuda pode estar mais perto do que se imagina. Não é fácil abandonar um vício, mas nunca é impossível.