Tenho gastado muito tempo e tinta com assuntos diversos. Alguns deles me pareceram importantes – a moralidade e os costumes dos novos tempos –, reconheço que errei: por exemplo, quem sabe ou fala dos 181 funcionários chefes do nosso Parlamento recebendo horas extras no mês de férias da Câmara e Senado? Ou da moralidade de leis e juízes que acorrem pressurosos aos ricos e deixam esquecidos nas cadeias imorais e superlotados cárceres para os pobres e desvalidos? Ou o tráfico das drogas, inatacável e incurável porque dá dinheiro ao traficante e ao policial corrupto? Enfim, de lei e obrigações morais, religiosas e cívicas – de tudo já falei por escrito. Creio que tive certo sucesso, porque desconhecidos me cumprimentam na rua, o barbeiro, o verdureiro, o motorista de táxi, gente simples que lê apenas o que realmente lhes mexe na cabeça. Vai daí que por indignação moral e cívica (matéria de colégio, companheiro!) resolvi escrever um pouco sobre o mais importante e perigoso tema nacional: o futebol. De início, devo lhes dizer que não sou analfabeto ou curioso no assunto. Desafio, na velharia que está lendo, quem como eu estava ao vivo no Maracanã e no final da Copa de 50, quando o Brasil perdeu bisonhamente para o Uruguai naqueles inesquecíveis dois a um. Alguém já passou dor igual em Copas do Mundo? Conto de passagem, aos menores de idade, que assisti a todos os jogos no inaugurado Maracanã, pobre e sem banheiros, a gente tinha que urinar no cimento do WC. De todos os times o único grande adversário era a Espanha, um time excepcional, um centroavante que lhes garantia o apelido de Fúria Espanhola... e nós metemos neles um 6x1 inesquecível. Daí fomos para liquidar o Uruguai, que nem da Suíça conseguiria ganhar. Pois bem, o espírito brasileiro, farra e bebedeira, o já ganhou... e nós perdemos a Copa. Bem, aí está a minha introdução histórica, porque depois desta esfrega o nosso futebol virou gente séria, tai o tal de hexa, pra frente Brasil! É, mas estou sentindo um certo amolecimento... que tal, só de passagem, a nossa última Copa? E agora, vendo o Brasil sofrer na classificação para a próxima, estou preocupado, e conto isto aos amigos e a algum tradicional capitão da CBD. No barato e simples, este jogo classificatório contra o Equador foi uma lição deplorável. O nosso Dunga foi herói no pontapé e no sangue, quando jogava. Como técnico, é uma lástima. O time que ele montou foi pra fazer brincadeira, um jogo de pebolim, aquela quadradinha de jogar no boteco. Os seus dois laterais (nem quero lembrar o nome) eram dois nanicos que levaram o maior baile dos ponteiros equatorianos, que entravam livres e perderam gols aos montes, afora o maior jogador brasileiro, o consagrado Júlio César. Gilberto, ali no meio campo, só perdia bolas e quando acertava mandava lá pra frente, onde Deus quisesse. E lá tínhamos mais dois jogadores de pebolim, o Ronaldinho e o Robinho. O Júlio Baptista entrou, era tamanho e físico, pelo menos mandou aquela bola que virou gol. Aí caímos de novo no pebolim, os morenões do Equador passavam por cima dos laterais nanicos, entravam na área como queriam, podiam ter feito três ou quatro gols – não fosse o Júlio e Nossa Senhora Aparecida! Bem, terminamos o jogo com o empate, graças a Deus. Agora virão crônicas esportivas explicando ou justificando as bobageiras. O Dunga vai dizer coisas de sua técnica e astúcia, o jogo foi mesmo pelo empate, estamos bem e vamos ficar melhor, vocês vão ver! É, mas até que está certo. Foi um jogo de pebolim nanico, e nós não podemos esquecer que Dunga era o anãozinho da Branca de Neve!
(*) médico e pecuarista