Tenho seguido à risca os conselhos dos climatologistas, de nunca me expor ao sol ou fazer exercícios físicos sem ter água para me hidratar. A falta do precioso líquido pode nos custar a vida.
E ainda há quem ignore que estamos vivendo num imenso “condomínio aberto”. Nesse “condomínio”, muitos dos que pagam mais vivem na ilusão de ter direitos superiores aos que pagam menos. A água tem o mesmo preço e, mais ainda, se é desperdiçada aqui, vai fazer falta ali ou acolá. Quando coloco água para o meu cão, aquela que cai além da vasilha faltará a outro cão.
Tenho observado o desperdício que cometem certas pessoas. Dia desses, ao fazer ciclismo pela cidade, avistei ao longe um amigo lavando o passeio, a sarjeta e molhando a rua com água abundante, saída de esguicho. Para não o constranger logo de manhã, dobrei uma esquina antes, montado na minha octogenária bicicleta Phillips. Imaginei até que meu amigo estivesse sendo obrigado a jogar tanta água na rua e não ficaria bem ele, com uma ponta de arrogância, ter de se justificar a mim. Grande foi o meu equívoco.
No outro dia cedo, lá estava o amigo repetindo a lavação que, aos olhos da sensatez, é absolutamente irrecomendável. Sei que ele pode pagar o quanto for necessário, todavia não é esse o caso. É que o meu amigo, com seu gesto, desrespeita as normas de cidadania. Ele sabe disso, porém ignora que um copo d’água que rola junto ao meio-fio vai deixar seca uma garganta em algum lugar.
Ele enxerga, mas não vê que o nosso “condomínio aberto”, chamado cidade, teve dezenas de bairros desabastecidos recentemente. E, ainda, o rio que nos abastece, somado aos três poços profundos, não tem muito a oferecer. A informação que talvez não tenha chegado ao conhecimento do amigo é que, se continuar o nosso boom habitacional, o colapso hidráulico nos espera.
Aí sim, a arrogância será parceira da humildade e a falta d’água terá um só preç todas as gargantas secarão igualmente.
