ACUSAÇÃO

Cláudio Castro diz que governo Lula negou envio de blindados ao RJ: 'estamos sozinhos'

O governador ainda acusou o governo federal de não dar uma respostas concreta aos pleitos do estado

Simon Nascimento/O Tempo
Publicado em 28/10/2025 às 16:50
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Castro subiu o tom contra o governo federal em meio aos desdobramentos da operação Contenção nos Complexos da Penha e do Alemão (Foto/Fernando Frazão/Agência Brasil)

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse, em coletiva à imprensa, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negou o envio de blindados ao estado para o combate ao tráfico de drogas em operações policiais. Nesta terça-feira (28/10), a capital carioca é palco de uma megaoperação contra integrantes do Comando Vermelho (CV) que já resultou em mais de 60 mortes e 80 presos. 

A operação se concentra nos Complexos da Penha e do Alemão e já é a mais letal da história no estado. De acordo com o chefe do Executivo estadual, a busca por apoio das Forças Armadas foi feita em três oportunidades. “Não foi pedido (apoio) desta vez porque já tivemos três negativas. Então já entendemos que é uma política de não ceder”, alegou Castro ao ser questionado por jornalistas. 

O governador ainda acusou o governo federal de não dar uma respostas concreta aos pleitos do estado. “Alegam que precisa ter (Garantia de Lei e da Ordem) GLO, que tem que ter isso e aquilo, que não podiam emprestar o blindado porque o servidor que opera o blindado é federal e ai tem que ter uma GLO e o presidente (Lula) já falou que é contra a GLO. A cada dia temos uma razão, para não ser mal educado, temos uma razão para (o governo federal) não estar colaborando”, complementou. 

Em fevereiro deste ano, o presidente Lula opinou sobre a Lei de Garantia e da Ordem citando, justamente, o Rio de Janeiro como exemplo. “De vez em quando, governadores pedem que eu faça uma GLO. Eu não vou fazer GLO, porque a GLO que foi feita no Rio de Janeiro, o governo federal gastou mais de R$ 2 bilhões e não resolveu quase nada. Então, o que nós queremos é participação ativa de forma a ter uma ação complementar com o governador do estado e resolver definitivamente a questão da segurança”, comentou à época sobre a intervenção federal feita no Rio de Janeiro em 2018 com uso das Forças Armadas.

Cláudio Castro citou ainda que o Rio de Janeiro atua sozinho no combate ao tráfico de drogas e que a guerra gerada por facções está passando dos limites ao reiterar a cobrança à União. Especificamente sobre a operação desta terça-feira, o governador citou que os trabalhos foram planejados por mais de 60 dias com o cumprimento de dezenas de mandados de prisão e de busca e apreensão.

"Não é mais só responsabilidade do estado. O estado está fazendo a sua parte, sim, mas quando se fala em exceder, exceder inclusive as nossas competências, já era para estar tendo um trabalho de integração muito maior com as forças federais, o que não está acontecendo”, reforçou. 

O que é a GLO? 

Prevista na Constitução Federal, a GLO permite o emprego das Forças Armadas - Exército, Marinha e Aeronáutica - em situações excepcionais, para assegurar a ordem pública e a segurança quando as forças policiais locais não são suficientes. 

A GLO é decretada por ato presidencial, que determina local, período de duração e o bjetivos. Durante a vigência da GLO, as Forças Armadas passam a ter poder de polícia, podendo realizar patrulhas, revistas, prisões em flagrante e outras ações típicas das polícias.

Governo federal rebate 

Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública rebateu as críticas do governador do Rio de Janeiro. A pasta citou que tem atendido “prontamente” os pedidos do Executivo carioca para o emprego da Força Nacional no território do estado. “Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas. No âmbito da Polícia Federal (PF), só em 2025, foram realizadas 178 operações no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas”, justificou o governo. 

No posicionamento, a pasta ainda relembrou uma reunião, em fevereiro, entre o governador Cláudio Castro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em que a União cedeu vagas em presídios federais para alocar líderes de facções criminosas que atuam no Rio de Janeiro. “O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado. As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população”, argumentou. 

Leia, na íntegra, a nota do Ministério:

"Em cooperação com o Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mantém atuação no Estado desde outubro de 2023, por meio da Força Nacional de Segurança Pública, conforme previsto na Portaria MJSP nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A operação segue vigente até 16 de dezembro de 2025, podendo ser renovada.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional no Estado, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual. Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas.

No âmbito da Polícia Federal (PF), só em 2025, foram realizadas 178 operações no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas. Ao todo, foram 210 prisões efetuadas, das quais 60 estão diretamente relacionadas a investigações sobre o tráfico de drogas e armas.

No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis. Além disso, foram apreendidas cerca de 600 peças e acessórios de armas de fogo, capazes de moldar cerca de 30 fuzis.

Esses números refletem o esforço contínuo da Polícia Federal no enfrentamento ao crime organizado e na redução do poder bélico das facções criminosas.

Entre 2024 e 2025 (até outubro), foram 855 mandados de prisão cumpridos, sendo 462 no ano de  2024 e 393 no ano de 2025.

Entre as ações de destaque, estão a Operação Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produção de 3.500 fuzis por ano, destinados a comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho; as operações Buzz Bomb e Libertatis, deflagradas em 2024, que prenderam os operadores de drones das duas principais facções criminosas em atuação no Rio de Janeiro.

Além disso, a PF coordena duas operações conjuntas com as forças de segurança do estado, FICCO/RJ e Redentor, que reforçam o compromisso comum de enfrentar o crime organizado de forma coordenada e eficiente.

Também desde 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem atuado no Estado em operações de combate a roubo de cargas e a roubos de veículos nas rodovias federais.

De janeiro de 2023 a outubro de 2025, foram:

- 3.082 veículos recuperados;  - 13.961 munições apreendidas;    - 172 armas curtas apreendidas;    - 72 fuzis apreendidos;    - 8.250 pessoas detidas;    - R$ 3.240.201,00 apreendidos (de origens ilícitas);    - 29.5 toneladas de maconha apreendidas;    - 3.9 toneladas de cocaína apreendidos;    - 73.990  unidades de drogas sintéticas.

Nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro tem recebido recursos do governo federal para investir no sistema penitenciário e na segurança pública. Por meio do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), o estado recebeu mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024 - valor que, com rendimentos, superou R$ 143 milhões. No entanto, apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões ainda em conta.

Já pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o Rio de Janeiro recebeu quase R$ 288 milhões desde 2019, montante que, com rendimentos, alcançou R$ 331 milhões. Desse total, pouco mais de R$ 157 milhões foram executados até o momento, deixando um saldo superior a R$ 174 milhões disponíveis.

Além disso, o estado tem sido atendido com doações de equipamentos, como veículos, computadores, drones, coletes e munições, que somam aproximadamente R$ 10 milhões.

O MJSP informa ainda que, no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tem desenvolvido uma série de iniciativas com o Governo do Rio de Janeiro,  como a integração do Estado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).

Além disso, o MJSP e o Governo do Rio de Janeiro firmaram acordo de cooperação técnica para a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, com foco na identificação, localização e prisão de criminosos de outras unidades da federação que se refugiam em comunidades fluminenses. A Célula realiza o cruzamento e análise de bancos de dados policiais e judiciais, a integração de mandados de prisão nacionais, com base na Lista dos Procurados do SUSP e na Matriz de Risco Nacional, e a coordenação de operações conjuntas de captura de criminosos prioritários.

O MJSP e o Governo do Rio de Janeiro também firmaram acordo para a criação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), com foco na descapitalização das organizações criminosas, mediante inteligência financeira, recuperação de ativos e assessoramento especializado em investigações de lavagem de dinheiro. Até setembro de 2025, o CIFRA havia analisado 59 Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), envolvendo operações com mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos, com 423 documentos produzidos e difundidos entre os anos de 2024 e 2025.

Ainda, em 5 de fevereiro deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública para uma reunião com o ministro Ricardo Lewandowski. À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do Estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro. “A missão é a cooperação total entre União e o RJ. Estamos empenhados em combater o crime de forma cooperativa e integrada. Esse é mais um exemplo da integração federativa que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública pretende colocar em prática”, disse o ministro após o encontro.  

O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado.

As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população. Com investimentos significativos e esforços contínuos, o MJSP permanece empenhado em assegurar resultados efetivos e contribuir para a preservação da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro."

Fonte: O Tempo.

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