Indicação de aliados do presidente da ALMG para comissões de Constituição e Justiça e Administração Pública incomodou governo, que alega ter perdido maioria
Presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Tadeu Leite, ao lado do ex-deputado federal Marcelo Aro. (Foto/Henrique Chendes/ALMG)
A escolha do governador Romeu Zema (Novo) pelo ex-deputado federal Marcelo Aro (PP) para a Secretaria de Governo é uma resposta ao presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Tadeu Leite (MDB), o Tadeuzinho. A nova formação dos assentos das principais comissões permanentes, patrocinada pelo presidente, desagradou o Palácio Tiradentes.
Apesar de a redistribuição ter mantido quatro dos sete assentos com os blocos da base de Zema, o “Minas em Frente” e o “Avança Minas”, a avaliação de interlocutores é que o Palácio Tiradentes não terá maioria nas comissões de Constituição e Justiça e de Administração Pública, porque os presidentes são do círculo de Tadeuzinho. Elas são duas das três principais comissões da ALMG.
A Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo, será presidida por Doorgal Andrada (PRD). Um posicionamento contrário de Doorgal faria o governo perder a maioria, já que, dos seis assentos restantes, três estão nas mãos de PT, Rede e PL. São eles Dr. Jean Freire (PT), Lucas Lasmar (Rede) e Bruno Engler (PL), líder da bancada do PL.
Os questionamentos se estendem à Comissão de Administração Pública, cujo presidente será Adalclever Lopes (PSD), que retorna à Casa após a eleição de Douglas Melo (PSD) como prefeito de Sete Lagoas, na região Central. Um eventual alinhamento de Adalclever à deputada Beatriz Cerqueira (PT) e aos deputados Professor Cleiton (PV) e Sargento Rodrigues (PL) imporia derrotas ao governo Zema.
A indicação de Adalclever ainda teria incomodado o Palácio Tiradentes em razão da proximidade entre o ex-presidente da ALMG e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (sem partido). Auxiliares do governo lembram que Adalclever coordenou a campanha de Kalil ao governo de Minas quando ele enfrentou Zema, em 2022 - o deputado também foi secretário de Governo do ex-prefeito.
Como Tadeuzinho aumentou a influência na ALMG, o governo Zema entende que a opção por Aro, que veio a público nessa quarta-feira (12 de fevereiro) logo depois de o então secretário de Governo, Gustavo Valadares, anunciar a saída, era necessária como uma resposta ao “endurecimento” sinalizado. A justificativa está no perfil do secretário chefe da Casa Civil, que é descrito como oposto ao do antecessor. Quando Valadares assumiu a secretaria, a escolha foi tratada como um gesto para a ALMG.
Para interlocutores do governo Zema, Tadeuzinho estaria repetindo o antecessor, Agostinho Patrus, que, durante a virada de um biênio para outro na última legislatura, rompeu com o Palácio Tiradentes. A avaliação é que o presidente da ALMG seria “ingrato” caso rompesse com Zema, porque, segundo eles, o governador teria feito esforços para manter uma relação republicana com Tadeuzinho.
Entretanto, interlocutores da ALMG minimizam os nomes avalizados por Tadeuzinho para os postos-chave da Casa. Doorgal teria sido acomodado na presidência da Comissão de Constituição e Justiça em razão de um acordo costurado no início da legislatura. Ele substituiria Zé Guilherme (PP) na presidência da Fiscalização Financeira e Orçamentária, mas, como Zé foi mantido, Doorgal assumiu a Constituição e Justiça.
Auxiliares da ALMG ainda projetam que Adalclever deve se alinhar ao governo Zema, porque precisará dele. Como retornou à Casa a apenas dois anos das eleições, o ex-presidente, que também é próximo do ex-governador Fernando Pimentel (PT), irá depender da estrutura do Palácio Tiradentes para reorganizar as suas bases eleitorais em busca da reeleição como deputado.
Apesar da estratégia do governo Zema em optar pelo ex-deputado federal, interlocutores de Tadeuzinho avaliam a relação entre o presidente da ALMG e Aro como boa. Poucas horas depois de o Palácio Tiradentes defini-lo como novo secretário de Governo, Aro convidou o deputado para um almoço, o que, ao menos para auxiliares, foi considerado como um passo importante para reconstruir a relação com a Casa.
O TEMPO procurou Tadeuzinho e Aro e aguarda um retorno. Tão logo o presidente da ALMG e o futuro secretário de Governo se manifestem, os posicionamentos serão acrescentados na reportagem. O espaço segue aberto.
Fonte: O Tempo